E ela, Ângela Maria La Sala Batà começou, assim calmamente, a proferir palavras que diziam fundo ao coração:
___A maior parte da infelicidade humana deriva do fato de o homem não conhecer a si próprio, de não saber distinguir, dentre as múltiplas flutuações da sua psique, sua essência íntima e verdadeira, sua nota permanente. É raro encontrar um indivíduo em perfeita harmonia consigo mesmo, capaz de dar expressão ao seu "eu" real, e de chegar à autorealização, que é fonte de equilíbrio, de bem-estar e de serenidade. Eis por que se dá tanta ênfase à importância do autoconhecimento e dos estudos psicológicos. Na verdade, o autoconhecimento não é, de fato, um alvo em si mesmo, porém estabelece a base para a reconstrução e harmonização da psique e para o reconhecimento do verdadeiro eu, que é a força integrante da personalidade. Esse é o processo da individuação de que fala Jung, a psicossíntese de Assagioli, a luta pela auto-realização de Karen Horney, que, no prefácio de seu livro Neurose e Desenvolvimento da Personalidade, diz: "O conhecimento de si próprio não é. . . um escopo por si mesmo, e sim o meio de liberar a energia do desenvolvimento espontâneo. Nesse sentido, ocuparmo-nos de nós mesmos torna-se não só a mais importante obrigação moral, como, ao mesmo tempo, e no autêntico significado da palavra, o mais importante privilégio moral". É claro, pois, que se quisermos realmente encontrar o equilíbrio dentro de nós — alcançando, assim, a expressão do nosso verdadeiro eu —, devemos começar pelo autoconhecimento. Isso não só nos trará serenidade e harmonia mas nos fará capazes de compreender melhor os outros, amá-los, auxiliá-los, fazendo-nos fontes de bem e de força para todos aqueles que encontrarmos. A aspiração ao autoconhecimento não é, todavia, sintoma de egocentrismo, e sim de uma necessidade real do homem, de uma exigência profunda e construtiva, que trará, em seguida, resultados úteis e benéficos para a própria pessoa e para os demais. Com o presente curso, queremos oferecer, àqueles que desejarem se conhecer, um método simples e prático de auto-análise, proveniente do estudo de uma tipologia psicológica, de origem espiritual, chamada tipologia dos Sete Raios, ou Sete Temperamentos Humanos. O estudo das várias tipologias psicológicas é de grande auxílio para o nosso autoconhecimento, já que nos oferece termos de comparação, exemplos que podem ser de estímulo e esclarecimento para o nosso caso particular. Desde a Antigüidade reconheceu-se a existência dos vários temperamentos entre os homens, e várias classificações foram tentadas. Basta que mencionemos a classificação — ainda hoje cotada — do médico grego Hipócrates (exposta há mais de 2.000 anos), que subdividia os homens em quatro temperamentos — o sangüíneo, o fleugmático, o colérico e o melancólico baseando-se, de uma forma simplista, em diferenças fisiológicas.
Ê preciso chegar a Carl Gustav Jung para se ter uma tipologia fundamentada em estudos mais profundos, e corroborada por observações e experiências psicológicas sérias e acuradas. A classificação de Jung, hoje largamente difundida, e que se refere a introvertidos e extrovertidos, mostra-se, na verdade, de grande interesse e utilidade, e lançou luz nova sobre o complexo mecanismo da psique humana. Neste Curso, preferimos descrever a mencionada tipologia dos Sete Raios, porque, sendo de origem espiritual, compreende todos os aspectos do homem, dos mais altos aos mais baixos, e é, portanto, mais completa e mais ampla, e, apesar de sua aparente complexidade, é simples e racional. Não nos ocuparemos do aspecto cósmico e metafísico dos Raios, porque isso nos levaria muito longe, mas examinaremos apenas o lado psicológico da sua manifestação em plano humano. Diremos apenas que os Sete Raios são considerados sete energias que, partindo diretamente da Divindade, permeiam e influenciam todos os planos da manifestação, criando, no plano humano, sete tipos psicológicos diferentes, porque cada um deles é classificado por uma nota que lhe é própria. Esta concepção dos Sete Raios vem da doutrina oculta da criação, segundo a qual o Um torna-se Três, e os Três tornam-se Sete. O espiritualismo se baseia nessa visão de um universo que é uno com Deus, do mais alto ao mais baixo plano. E essa verdade está muito bem expressa por Van der Leeuw em seu livro O Fogo da Criação, com as seguintes palavras: "Não há Deus de um lado e de outro lado o Universo. Não há um Ser Divino acima e um mundo sem Divindade abaixo, mas Deus está presente em cada ponto do Seu universo e pode ser alcançado e sentido em qualquer um desses pontos". Os Sete Raios expressam, portanto, sete qualidades, derivadas da triplicidade fundamental — Vontade, Amor, Inteligência Criadora (Pai, Filho e Espírito Santo) —, e que, em seu conjunto, formam a harmonia perfeita, a completação psicológica do homem. E são: I. Raio, Vontade-Poder; II. Raio, Amor-Sabedoria; III. Raio, Atividade da Mente; IV. Raio, Harmonia através do Conflito; V. Raio, Ciência Concreta; VI. Raio, Devoção; VII. Raio, Concretização Física; Cada um deles tem como característica uma qualidade psíquica especial, diferente dos outros, mas, como em seguida a veremos, derivam de cada um
dos raios de muitas outras qualidades, positivas e negativas, que, em seu conjunto, formam um temperamento, um tipo psicológico bem delineado. Os Sete Raios poderiam dividir-se em dois grupos de três, e um à parte, já que os primeiros três são introvertidos e os últimos três são extrovertidos, sendo o do centro ambivertido. Na verdade, o Primeiro Raio representa a Vontade dirigida para o mundo interior e para o alto, isto é, autodomínio e o propósito espiritual do homem, portanto a vontade introvertida; o Segundo Raio, o amor para o Deus interior, para a Alma, compreendida como consciência, a sensibilidade psíquica, a busca interior; o Terceiro representa a Inteligência abstrata, a atividade da mente voltada para o mundo das idéias, para o conhecimento das causas, para a síntese. Os Raios de números V, VI e VII correspondem aos primeiros três, mas em sentido inverso, isto é, o V corresponde ao III, o VI ao íleo e o VII ao I. O Quinto Raio expressa, na verdade, a atividade da mente concreta, a inteligência voltada para o mundo objetivo, para o mundo fenomenal, isto é, para a ciência, a pesquisa, a análise; o Sexto representa a devoção, o amor para com um ideal, a busca de Deus fora de si próprio, o misticismo, a aspiração para o alto, a ascese; o Sétimo representa a vontade dirigida, como força organizadora sobre o mundo da forma, o domínio das energias físicas e etéricas, a imposição de um ritmo, a ordem, o cerimonial. O Quarto Raio é ambivalente; portanto, está a seu modo. Ele alterna, realmente, o movimento de extroversão com o de introversão, e expressa a harmonia, a fusão, a síntese entre os opostos. A esta altura, é preciso fazer sentir que, embora sendo tão diversos psicologicamente, os sete raios não devem ser considerados como melhores alguns, e piores outros. Eles expressam sete notas diversas, porém todas elas igualmente úteis e necessárias ao desenvolvimento harmônico do homem. São como as sete notas musicais, ou as sete cores do arco-íris, que, consideradas separadamente, são bem diferentes, às vezes até contrastantes, mas, tomadas em conjunto, formam a harmonia e a luz branca, respectivamente. Isso acontece também para o homem: no início de seu caminho evolutivo está imerso na multiplicidade, na separatividade, e sente a qualidade dos raios como notas distintas e separadas. Pouco a pouco, entretanto, ao passo que evolui e se torna mais completo, mais integrado, compreende a possibilidade, e finalmente a necessidade da fusão e da síntese de todos os raios. Na realidade, o homem perfeitamente desenvolvido e harmonizado deveria poder compreender e manifestar todas as sete notas psicológicas dos raios. Todavia, isso poderá chegar ao fim do caminho evolutivo, quando ele for a expressão de uma individualidade espiritualizada perfeita, que tem em si mesma um reflexo da Divindade, e talvez da completação. Antes desse momento final, a multiplicidade de expressões é necessária, constituindo meio de experiência e desenvolvimento. Os sete Raios são, na verdade, algo mais do que sete qualidades psicológicas: são sete caminhos de desenvolvimento que conduzem, todos, à mesma meta. São como os raios de uma circunferência que convergem todos para o mesmo centro, partindo da periferia do círculo, e que, à proporção que se adiantam, vão sempre se avizinhando mais entre si. Assim, essas sete correntes de energia, esses sete caminhos, que são os Raios, ao passo que sobem pela via da evolução, tendem a integrar-se, a unir-se, a completar-se alternadamente e, superando os contrastes, apagando a diversidade, até chegarem à síntese, à Unidade. O escopo do homem é o de se tornar perfeito, completo, e não de permanecer unilateral. Se um homem, por exemplo, tem uma Alma do Raio l, que é o da Vontade-Poder, não será perfeito enquanto não desenvolver também as notas que lhe faltam, isto é, o amor, a compreensão, a harmonia, etc. Através de tudo quanto foi dito até agora, compreende-se bem como o estudo dos sete raios, do ponto de vista psicológico, é útil para o nosso autoconhecimento. Tal estudo oferece, realmente, um quadro dos vários tipos psicológicos com suas características, com suas qualidades e seus defeitos, com seus problemas e suas crises, que podem ser para nós como um reagente psicológico que nos ajudará a esclarecer os lados do nosso caráter que ainda não conhecemos, ou que não queremos conhecer. Assim, pouco a pouco, se irá delineando nosso verdadeiro aspecto, o nosso real temperamento, com a sua nota essencial, suas potencialidades, e assim poderemos compreender qual é a linha de desenvolvimento mais adequada para nós, qual é nossa verdadeira tarefa, e também quais são nossas lacunas e deficiências. Ao nos analisarmos, tendo presente a tipologia dos sete raios, perceberemos, depois de exame atento e acurado, que, em meio a todos os elementos, qualidades e tendências que existem em nossa psique, há uma nota prevalecente e dominante, que retorna sempre, embora a reprimamos, se as circunstâncias da vida não nos consentem expressá-la. Essa nota ali está, no centro de nós mesmos, presente embora oculta, viva apesar de sufocada. E uma força que agora ou mais tarde deverá brotar, manifestar-se, e fazer seu curso. Se facilitarmos a manifestação dessa força central do nosso ser, evitaremos infinitos contrastes interiores, crises e sofrimentos, e alcançaremos aquele equilíbrio, aquela eficiência, aquele bem-estar que são a base para uma vida ampla e completa. Antes de terminar esta breve lição introdutória, é necessário que mencionemos ainda uma outra coisa. Veremos, ao estudarmos ponto por ponto os Sete Raios, que em cada um deles há uma nota fundamental, e depois muitas outras qualidades positivas e negativas. Alguém poderá indagar de si mesmo: De que forma uma energia de caráter espiritual, uma qualidade que tem sua origem diretamente de Deus, pode produzir qualidade negativa? Dissemos, anteriormente, que as sete energias dos raios podem manifestar-se em todos os níveis da manifestação, do mais alto ao mais baixo, e assim tomam, por assim dizer, o colorido da qualidade em cujo plano vibram em um dado momento. Da mesma forma, no que se refere ao homem, um raio tomará o colorido de qualidades e vibrações diversas, segundo o grau evolutivo do indivíduo que delas é a expressão, e conforme o veículo onde aquele indivíduo está polarizado.
Se, por exemplo, um homem é ainda primitivo e está polarizado no físico, o seu raio se manifestará através do veículo físico, tingindo-se da qualidade daquele veículo, alterando-se e poluindo-se ao contato das limitações e das impurezas dele. A energia é pura, mas o veículo pode ser impuro. É sempre a mesma energia dos Sete Raios que vibra no santo que chega ao martírio, ou no fanático que comete crueldades e injustiças em nome do seu ideal. No santo, a energia da devoção encontra um canal já purificado e elevado; no fanático, encontra um instrumento ainda imperfeito e manchado de impurezas. A energia é sempre a mesma, porém muda de freqüência de vibrações conforme o nível no qual se manifesta. Devemos, por fim, considerar um outro lado muito importante do estudo dos raios, e que é o ensinamento que eles nos dão para que melhor compreendamos os outros, e para estarmos de acordo e nos integrarmos com indivíduos de temperamentos diferentes do nosso. Nem sempre podemos viver ao lado de pessoas com as quais tenhamos afinidades, e assim a vida muitas vezes nos faz estar ao lado de pessoas inteiramente diferentes de nós e com as quais às vezes devemos conviver. Isso não acontece por acaso, pois o contato com temperamentos diferentes do nosso, ou até mesmo opostos ao nosso, é fecundo e construtivo. Devemos aprender que a diversidade é uma riqueza e que a verdade tem muitas faces. Cada temperamento tem suas qualidades positivas, que talvez sejam até mesmo aquelas que nos faltam. Com pessoas assim diferentes de nós, devemos nos integrar e criar uma ponte de compreensão e de colaboração. Quando tal atitude de compreensão se tiver difundido no mundo, o homem de ciência não desprezará o místico, nem o homem de a cão zombará do filósofo, mas cada qual saberá que está em uma das muitas estradas da evolução que existem, e procurará, antes, aprender com outros aquilo que a ele falta. No mundo, existe a ciência, expressão do quinto Raio; a religião, expressão do sexto Raio; a política, expressão do primeiro; a filosofia, expressão do terceiro, e assim por diante. Todos são caminhos que conduzem a uma idêntica meta: a Unidade de onde viemos e para a qual retornaremos, enriquecidos pela nossa experiência e cientes de que somos parte da Realidade Divina.
