SOBRE DESPEDIDA
Todas as despedidas são tristes. Há de certa maneira uma amargura implícita nesta palavra, no adeus.
Não chego ao ponto de dar referência à despedida ao túmulo, cito às despedidas dos dias, aquela da estação, do aeroporto, do casual, aquele encontro fugaz depois de longos anos, atos e fatos inevitáveis no decorrer da vida.
Uma convivência a findar, o ponto final, a tristeza do 'Hoje é o último dia' ou 'esta é a última vez que venho aqui'.
Interessante é que sabemos, conhecemos a transitoriedade das coisas e a verdade: nada permanece sobre a Terra, tudo é mutável, o bem e o mal, e nós ainda sofremos muito quando a vida nos obriga ao adeus.
Acredito que nossa dor se deve ao fato de não conseguirmos falar de nossos desejos, de abrir o coração e dizer da falta que aquela ausência nos fará, do quando haverá de vazio e de tristeza.
Esta emoção acabamos segregando a palavra, marejanos os olhos, embargamos a voz com aquela farpa difícil que nos apanha, mas valentes ousamos em fingir a calma e falar de coisas indiferentes.
Há uma certa dificuldade na criatura humana em exprimir seus sentimentos com medo de que lhe entendam como fraqueza, como menos viril, menos macho, e com isso acaba—se por romper com a pureza de ser o ser, de humano, e se conclui a inutilidade da palavra. Assim muito e muito mais expressivos são determinados silêncios.
Sempre pedi para que fosse poupado, que não fosse obrigado a uma despedida, tive várias; a uma separação, tive várias. Já me bastariam aqueles fatais da existência humana: o adeus à infância, à adolescência, às ilusões, aos amores.
Para que a amargura dos outros ?
Queria ter a coragem de não calar quando na despedida há tanto a dizer. Oh triste de mim, de nós, que passamos a vida vendo outras vidas passarem, deixando e levando um naco de nossa essência e continuamos sem coragem de sermos sinceros.
#PsicologoAbilioMachado
#poethaabiliomachado
#SobreDespedida
🎅
#13julho2015
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