ABILIO MACHADO
ANÁLISE EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO
Análise de uma interação social em uma obra literária:
“Primo Basílo”
...de Eça de Queiroz.
Análise apresentada pela EQUIPE 03 A, à disciplina
de AEC - Analise Experimental do Comportamento II,
ministrada pelo Professor: Ms. Felipe G. de Oliveira ao
4º Período de Psicologia da Faculdade Evangélica do
Paraná.
Curitiba, 11 de novembro de 2011
“Primo Basílo... de Eça de Queirós.”
Questionar, levantar possibilidades sobre a vida de uma personagem, a AEC,
mostra sua aplicabilidade no contexto do cotidiano, na vida de nós mortais, que em
minha visão traz uma compreensão melhor sobre o estudo comportamental, pois as
figuras fictícias usadas pelo autor são sempre frutos de uma observação, de um
entendimento pessoal e que ele alude criando ou assemelhando situações para
demonstrar aqueles comportamentos que lhe chamaram a atenção.
Neste trabalho, específico sobre a obra de Eça de Queirós, O Primo Basílio
(1878), os recortes dos diálogos para estudo dizem respeito à personagem Luísa e sua
auxiliar doméstica e seus comportamentos. Traz na sua essência um comportamento
da época, um romantismo dentro do movimento literário que ficou conhecido como fase
realista, que como seus outros contos mostram e muito as peripécias da sociedade
portuguesa do sec. XIX, que não deixa de ser atual, pois seu trato é sobre uma esposa
jovem que se vê dentro de um casamento, até que em alguns momentos feliz, mas que
com o retorno ao país de seu primo Basílio, seu primeiro amor, o qual teve de
negligenciar pelo arranjo matrimonial da época. Luísa, é apanhada num turbilhão,
adultério e refém de sua empregada, que acaba interceptando sua correspondência.
Às vezes na sua consciência achava Leopoldina "indecente"; mas tinha um fraco por ela: sempre
admirara muito a beleza do seu corpo, que quase lhe inspirava uma atração física. Depois a
desculpava: era tão infeliz com o marido! Ia atrás da paixão, coitada!
E aquela grande palavra, faiscante e misteriosa, de onde a felicidade escorre como a água de
uma taça muito cheia, satisfazia Luísa como uma justificação suficiente: quase lhe parecia uma
heroína; e olhava-a com espanto como se consideram os que chegam de alguma viagem
maravilhosa e difícil, de episódios excitantes.
Só não gostava de certo cheiro de tabaco misturado de feno, que trazia sempre nos vestidos.
Leopoldina fumava. (descrição dos pensamentos de Luísa (Cap.01, p.11).
Como exposto no trabalho realizado na última aula, dia 09, para que haja
possibilidade de um estudo comportamental se precisa ter o conhecimento do histórico
daquela vida, do que o indivíduo viu ou presenciou que veio a estimular determinada
resposta, por isso no início citei os pensamentos da personagem, pois sua amiga dos
tempos de solteira e vizinha lhe promove certa inveja pelos prazeres e libertinagem,
não só verbais quanto de relacionamentos.
De acordo com Ernesto Guerra da Cal (1953, p. 27), estudioso das obras de
Eça:
Visto que segundo as anotações de Maria Amélia Matos (1991,p.2) pensar é
aqui entendida como uma classe de operantes verbais pré-correntes encobertos
(principalmente tatos e ecóicos) relativos a um assunto ou problema, cujos efeitos
principais são sobre o repertório comportamental do próprio emitente, e que, nesse
sentido, não produzem alterações no ambiente físico ou social do ambiente. Contudo,
alteram a probabilidade de ocorrência de outros comportamentos do emitente, e estes
sim, que alteram seu ambiente físico e/ou social.
Este romance carrega características psicológicas próprias através destas
quadras de diálogos que vem auxiliar ao nosso estudo e principalmente ao profissional
de investigação comportamental.
O estilo literário vai muito mais além do meramente verbal. Ter estilo
não é possuir uma técnica de linguagem, mas ter uma visão própria do
mundo e ter conseguido uma forma adequada para a expressão dessa
paisagem interior.
As palavras são, pois, mais alguma coisa do que o veículo de
comunicação, por meio do qual o artista nos faz chegar a sua
mensagem. Por detrás delas, implícita, misteriosamente presente, está
uma apreensão total da realidade; uma atitude vital, uma concepção
subjetiva do mundo, uma particular maneira de o simplificar, de o
transformar, adaptando-o à personalidade, à própria maneira de o
sentir, de “o pensar” por assim dizer.
Pois, podemos compreender e entender os comportamentos individuais, os
reforçadores que os antecedem e os estimulam, bem como o reconhecimento do
contexto em que acontecem os comportamentos, neste estudo são as categorias
verbais que nos auxiliarão.
A análise da página 16 é de mando, pois subentende-se que Juliana não
obedeceu ao trabalho e acabou sendo lembrada pela patroa da necessidade da roupa
arrumada na mala, através desta descrição verificamos a diferença funcional da ouvinte
e da emitente.
A página 17, traz uma situação de tato, pois é devido ao desejo do marido, que
acha Leopoldina uma má influência, e portanto, não é bem vinda. É tato, por estar sob
a visão do controle, sensações e lembranças.
Na página 21, existindo uma partilha da informação, e como acima uma
discriminação e identificação social caracteriza-se como tatear.
Na página 24, vemos claramente que há um confronto situacional entre ambas,
uma querendo revitalizar o valor e os conceitos do marido e a outra ameaçadora
demonstrando que é cumpridora de que pode ser bem mais perigosa que
simplesmente comentar sobre a visita de Leopoldina... Característica ecóica, em
reforçar e fazer lembrar, demonstração de necessidade perceptiva.
Sobre a página 45, Juliana pede para sair, mas é lembrada de suas funções, dizse doente e é parte de seu aprendido a lamentação da sua doença causa comoção e
liberação, porém um controle verbal, entraria o mando e o ecoar, pois aparece as
características necessárias.
Na página 55, Luísa está perdida em pensamentos quando é abordada, aqui
existe a presença de encobertos, que estão ali, na lembrança de Luísa, onde ela
retrocede em si na busca daqueles momentos, fato este que a faz ter uma reação
brusca com Juliana quando esta lhe traz luz, é o mando.
Leopoldina era filha única do Visconde de Quebrais, o devasso, o
caquético, que fora pajem de D. Miguel. Tinha feito um casamento
infeliz com um João Noronha, empregado da alfândega. Chamavamlhe a “Quebrais”; chamavam-lhe também a “Pão-e-queijo”. Sabia-se
que tinha amantes, dizia-se que tinha vícios. Jorge odiava-a. E dissera
muitas vezes a Luísa: Tudo, menos a Leopoldina!
Na página 66, o mando entra novamente, através da cobrança da atitude da
doméstica, a qual se esquiva de sua função, e também por que se trata de Basílio a
bater na porta.
Na página 69, a uma intenção fora do contexto original, em primeira visão sobre
as perguntas seria uma verbalização poética, como há uma compreensão da situação
coloco-a como ler, a ouvinte conseguiu reconhecer e verbalizar uma resposta
adequada.
Na página 77, o ecoar vem atroz através das palavras, que retumbam uma
ameaça sobre o fato de que Luísa se encontrava ausente.
Na78, vem o mando através da ordem expressa.
Na 81, vem um pedido consensual de que entrará mais uma personagem no
ambiente, seria este que tipo de reforçador? Para mim mais negativo que positivo para
a situação, de ver Basílio e Luísa à casa sem a presença do marido.
Na 88, o arrumar a cama, o ter ouvido barulho, há o mando e o ecoar, bem que
tal estímulo, não interferiu naquele momento nos amores do casal, só depois Luisa vem
saber de quem se tratava.
Na 97, o mando de novo, a colocação dos papeis, a bem que a presença da
empregada parece mais como uma tentativa de interrupção e coação, buscando
informações para um emparelhamento.
Na 111, a empregada volta a usar a comoção da patroa, pois aprendeu que se
passar mal, acaba ganhando liberação para sair a perambular e ter com a tia.
Na página 135, uma presença negativa da empregada que é surpreendida na
sua tentativa de ouvir a conversação, um estímulo negativo que causa aversão à
patroa.
Na 139, existe um vislumbre de perigo sobre a chegada da carta e
reconhecimento do emitente, o tato aparece, no cuido do ato.
Na 146, a presença do marido causa uma reação impulsiva e Luisa se desfaz da
carta, mas presa à imagem amorosa retorna par tentar recuperar, porque aquelas
palavras lhe satisfazem, são um perigo mas que se transforma em reforço positivo ao
seu sentido romântico, deste sonhar.
Na 148, Luisa tenta demonstrar controle sobre o controle, dizendo que a
chegada da carta não irá proporcionar nenhum desconforto, coisa que não é a verdade.
Na pagina 189, Juliana faz tremer as estruturas do ambiente ao revelar o que
antes Luisa achava encoberto, faz ela ecoar seus propósitos que questiona a
autoridade antes exercida e que acaba por ter agora uma afronta.
Nas 212-214, Juliana questiona a fuga de Basílio, que tenta se afastar pelo caso
das cartas sumidas mas este acaba sendo um estímulo a mais para ela que exige uma
paga de 600 mil contos de réis, e também verbaliza toda a diferença social que as
separa, numa verdadeira apresentação histérica dos fatos.
Na página 221, existe o ecoar de novo com outras presenças de verbalizações
subjetivas, mas a empregada deixa de ser naquele instante um aversivo.
Na 223, é um diálogo estranho pois ao mesmo tempo que há o medo,negativo e
aversivo, existe uma procura de se fazer passar por auxiliadora, ou seja, positiva.
Nas 224 e 229, novamente as cartas, o uso de um objeto, só o fato de
mencionar, causa tamanho furor e ganhos, através de um subjetivo que causa mal
estar à senhora, ante a ameaça.
Nas páginas seguintes o retorno do marido a não funcionalidade da doméstica
acabam trazendo outra vertente que é o ecoar e o mando de Jorge, o marido, se vendo
sob ameaça de ter de sair da casa, Juliana se submete e acaba retornando as suas
funções, e assim mesmo sem deixar de lembrar à Luisa que se comporte. Acabam
traçando um contrato social, de relacionamento nestas últimas, pois se encontra a
articulação, que é o manejo coerente buscando a ambas uma auto-conscientização
comportamental.
Acabei por ler um artigo sobre O Primo Basílio que traz pormenores sobre toda a
elaboração de condução, estrutura e personalidades das personalidades e enredo
desta obra de José Maria, realizado por Élica Luiza Paiva (2006) ‘Da obra literária à
minissérie televisiva: um estudo da transcodificação da decadência moral da
personagem Luísa do romance O Primo Basílio de Eça de Queirós’, que indico aos
colegas e professores.
Referências bibliográficas:
QUEIRÓS, Eça. (1997).O Primo Basílio. 18. ed. São Paulo: Ática.
PAIVA, Élica Luiza (2006). Da obra literária à minissérie televisiva: um estudo da
transcodificação da decadência moral da personagem Luísa do romance O
Primo Basílio de Eça de Queirós. Dissertação apresentada como requisito
parcial para obtenção do Grau de Mestre, no Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Comunicação, Área de Concentração: Mídia e Cultura, Linha
de Pesquisa: Ficção na Mídia, da Faculdade de Comunicação, Educação e
Turismo da Universidade de Marília, Marília – SP
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