Quando Olho sou visto (Winnicott).
Ao nos depararmos
com um novo texto, um novo conceito e/ou paradigma, uma nova obra de
arte ou literatura - mergulhamos em um universo desconhecido, criado
a partir das vivências, emoções e perspectivas de alguém, fora do
nosso lugar, de nossa visão de homem e de mundo.
INTRODUÇÃO (quando
olho)
No entanto, enquanto
navegamos por essas águas, muitas vezes nos vemos refletidos nas
linhas, nas cores e nas notas. É bem possível, igualmente, que nos
encontremos nas linhas e entrelinhas, à semelhança de um espelho, o
texto com seu pretexto, se nos revela e nos mostra quem somos.
Em nossa travessia
pela vastidão da experiência humana, encontramo-nos constantemente
confrontados por universos que não são nossos. Cada pintura, cada
melodia, cada palavra impressa carrega o peso de uma alma que não é
a nossa, de um mundo que nunca habitamos, de sonhos que nunca
sonhamos. É o desafio do desconhecido, do estrangeiro, que nos
convida a olhar além das fronteiras de nossa própria existência.
Quando nos deparamos
com uma obra de arte, seja ela visual, literária ou musical, somos
transportados para o reino da imaginação de outro ser humano. Nessa
terra misteriosa, encontramos paisagens desconhecidas, emoções
estranhas e pensamentos nunca antes concebidos. Winnicott, em sua
máxima "Quando Olho, Sou Visto", revela a dualidade dessa
experiência. Pois, ao observarmos, tornamo-nos simultaneamente
observados. É uma dança entre o sujeito e o objeto, entre o
conhecedor e o conhecido.
Mas o que é mais
fascinante é a descoberta de que, mesmo nestas terras estrangeiras
da mente de outro, encontramos reflexos de nós mesmos. As linhas de
um poema, as pinceladas de um quadro, ou as notas de uma canção
podem ressoar com os ecos de nossos próprios corações. E por quê?
Talvez porque, no
cerne da experiência humana, há verdades universais. Há emoções
que todos sentem, sonhos que todos compartilham e temores que todos
enfrentam. E assim, quando mergulhamos na criação de outra pessoa,
encontramos, muitas vezes, os mesmos sentimentos que habitam em nosso
próprio ser.
O texto, com seu
pretexto, é mais do que apenas uma coleção de palavras ou ideias.
É uma janela para a alma, tanto do autor quanto do leitor. Entre as
linhas, nos vemos refletidos, não apenas como indivíduos, mas como
parte de um tecido maior da humanidade. E, à medida que nos
reconhecemos no outro, começamos a entender mais profundamente o
nosso próprio ser.
Nessa interação,
há também um convite à humildade. Pois, ao reconhecermos a nós
mesmos em terras estrangeiras, percebemos que, talvez, não sejamos
tão diferentes assim. Que as barreiras que erigimos, as distinções
que fazemos, são, muitas vezes, ilusórias.
Assim, cada obra de
arte, cada texto, torna-se uma ponte. Uma ponte que nos conecta a
outras almas, a outros mundos, e, mais profundamente, a nós mesmos.
É um lembrete constante de que, mesmo em nossa singularidade, somos
todos parte de um todo interconectado, eternamente refletindo e sendo
refletido no grande espelho da existência humana.
Como disse Marcel
Proust (quando olho)
(...) “A
verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar novas
paisagens, mas em ter novos olhos.” A arte, de certa forma, nos
oferece esses "novos olhos", permitindo que enxerguemos
aspectos nossos em contextos que jamais imaginávamos para além de
nós próprios.
A experiência que
tenho de consumir novas informações, elaborar novos conceitos a
partir de obras artísticas não é apenas um ato passivo de
recepção.
É um diálogo
ativo. Ao interpretarmos uma cena de filme ou uma estrofe de um
poema, estamos também interpretando a nós mesmos.
Em um mundo vasto e
infinitamente complexo, estamos continuamente procurando
significados, tentando entender nosso lugar na tapeçaria da
existência. Como Proust tão eloquentemente expressou, a descoberta
verdadeira não se baseia na exploração do novo, mas na
reinterpretação do familiar através de uma perspectiva renovada. O
mundo não muda; somos nós que mudamos nossa forma de vê-lo. E é
aqui que a arte assume seu papel transcendental, sendo o veículo que
nos proporciona "novos olhos".
A arte não é um
mero passatempo ou uma simples distração; ela é uma ferramenta
poderosa de introspecção e autoconhecimento. Ao nos apresentar uma
obra, seja uma pintura renascentista, um filme contemporâneo, ou um
verso de poesia antiga, somos transportados para uma dimensão onde o
tempo, o espaço e a identidade fluem e se entrelaçam. Não estamos
apenas consumindo a arte; estamos nos fundindo a ela, tornando-nos
parte de sua narrativa.
Esse diálogo que
estabelecemos com a arte é, em sua essência, uma conversa que temos
com nós mesmos. Em cada pincelada que observamos, em cada nota que
ouvimos, em cada palavra que lemos, confrontamos nossos próprios
sentimentos, memórias, esperanças e temores. A arte é como um
espelho que não reflete nossa imagem física, mas nosso eu mais
profundo, nossas emoções e pensamentos mais íntimos.
E é essa
introspecção que torna a experiência artística tão
transformadora. Porque, ao interpretar uma obra, não estamos apenas
decodificando a intenção do artista, mas também explorando os
cantos mais obscuros e as alturas mais luminosas de nossa própria
psique. A arte desafia, provoca e nos instiga a pensar. Ela nos tira
da zona de conforto, desafia nossas crenças e nos faz questionar
nossa percepção da realidade.
Talvez, a verdadeira
magia da arte resida na sua capacidade de ser simultaneamente um
espelho e uma janela. Ela nos mostra quem somos e, ao mesmo tempo,
nos oferece vislumbres de mundos que nunca conhecemos, de sentimentos
que nunca sentimos e de pensamentos que nunca pensamos. E, nesse
processo, ao abraçar a arte, abraçamos a nós mesmos, aprendendo,
crescendo e evoluindo.
Então, da próxima
vez que nos encontrarmos diante de uma obra de arte, lembremo-nos de
que ela é mais do que apenas tinta, tela ou palavra. É um convite à
introspecção, um chamado para olhar o mundo e a nós mesmos com
"novos olhos", e mergulhar nas profundezas inexploradas de
nosso próprio ser.
Anaïs Nin pontuou
(quando olho)
(...) bem quando
disse: “Nós não vemos as coisas como elas são, vemos as coisas
como nós somos.” Nesse sentido, cada novo texto, cada melodia,
revela um pouco de quem somos e de como percebemos o mundo ao nosso
redor, você já se deu conta desse ‘fenômeno”?!
Ao nos aventurarmos
em novos territórios literários, artísticos, psicanalíticos -
muitas vezes estamos, consciente ou inconscientemente, em busca de
respostas ou de compreensão.
E mesmo quando
pensamos estar apenas buscando entretenimento ou evasão, encontramos
fragmentos de nós mesmos que nem sabíamos estar procurando.
Lembremo-nos daquela
máxima - quando não sabemos a direção, corremos o risco de nos
encontrarmos, em algum lugar… essa é uma boa provocação ao
convite à leitura dos textos no blog da Instituto Brasileiro de
Terapia Holística .
A observação
profunda de Anaïs Nin nos oferece uma perspectiva desafiadora sobre
a natureza da percepção. "Vemos as coisas como nós somos",
e não necessariamente como elas existem em sua essência. Esta
percepção sugere que toda a experiência é, em grande parte, um
reflexo de nosso íntimo. Toda vez que entramos em contato com o
externo, estamos, na realidade, projetando o interno. Somos a lente
através da qual o universo é observado e interpretado.
No vasto reino da
literatura, da música e da psicanálise"
data-wpil-keyword-link="linked">psicanálise, navegamos
entre palavras e sentimentos, entre acordes e reflexões, e em cada
esquina, em cada página virada ou nota tocada, encontramos ecos de
nosso ser. Cada texto, cada melodia, não é apenas uma apresentação
de ideias ou emoções, mas um espelho que revela nossos próprios
anseios, temores, paixões e questionamentos.
Por que somos tão
atraídos por certos gêneros literários, certas melodias ou certos
campos da psicanálise? Talvez seja porque eles ressoam com partes de
nós que estão ocultas, esperando para serem descobertas e
compreendidas. Em nossa jornada, frequentemente em busca de
conhecimento ou distração, acabamos por descobrir fragmentos de nós
mesmos em lugares inesperados.
E esta é a
maravilha e o mistério da jornada humana. Muitas vezes, quando
pensamos estar em busca de algo externo, estamos, na verdade, nos
aventurando em um labirinto interno. Mesmo nos momentos de evasão ou
busca de entretenimento, o universo tem uma maneira peculiar de nos
mostrar que estamos sempre no caminho do autoconhecimento.
A máxima "quando
não sabemos a direção, corremos o risco de nos encontrarmos, em
algum lugar" é uma bela e poética forma de lembrar que, mesmo
na incerteza, há uma oportunidade de descoberta. Muitas vezes, é no
desconhecido que as mais profundas revelações sobre nós mesmos
emergem.
O convite à leitura
no blog da Instituto Brasileiro de Terapia Holística, ou qualquer
outro canal de conhecimento, é mais do que uma simples solicitação
para consumir informações. É um chamado para embarcar em uma
odisséia de autoexploração, para abraçar a vulnerabilidade e se
abrir para a magia de se descobrir.
A cada texto, a cada
ideia compartilhada, há uma chance de ver o mundo e a nós mesmos
sob uma nova luz, de enriquecer nossa compreensão e de nos
conectarmos mais profundamente com nossa essência. Porque, no final,
a verdadeira jornada é sempre para dentro.
Rainer Maria Rilke
capturou (quando olho)
(...) essa ideia
quando escreveu: “A única jornada é aquela dentro de nós.”
Portanto - vale a pena o mergulho, em águas profundas… os textos,
na modalidade de artigos - são contagiantes. ESCAFRANDE sua vida!
Ao mesmo tempo que
um artigo pode parecer extremamente pessoal e único para o seu
criador, ela carrega em si uma universalidade que permite que pessoas
de diferentes contextos e realidades se vejam refletidas.
Isso porque as
emoções humanas, os dilemas e os desejos são compartilhados em
diferentes culturas e épocas. Esse fenômeno é o que permite que um
“texto transcendente” tenha um apelo tão amplo e duradouro.
Rainer Maria Rilke,
em sua sabedoria atemporal, reconheceu que as vastas paisagens que
realmente importam não são aquelas que se estendem diante de nossos
olhos, mas aquelas que residem nas profundezas de nossa alma. "A
única jornada é aquela dentro de nós", ele disse, e essa
jornada é tanto um desafio quanto uma dádiva. É a exploração
destes territórios internos que nos conecta com a essência de nossa
humanidade.
E como é
fascinante, essa dialética entre o individual e o universal! Embora
cada um de nós trilhe um caminho único, esculpido por experiências
pessoais, memórias e sonhos, os artigos, como manifestações
literárias, conseguem, de forma quase mágica, construir pontes
entre mundos aparentemente distintos.
Eles são como
faróis, iluminando os cantos escuros de nossa psique, convidando-nos
a "ESCAFRANDAR" nossas vidas, a mergulhar profundamente e a
descobrir verdades universais escondidas em nossas experiências
singulares.
Este poder dos
textos de transcender barreiras temporais e geográficas, de ressoar
em corações e mentes através de gerações e culturas, é um
testemunho da interconexão da experiência humana. Porque, no final,
sob a superfície de nossas diferenças, há emoções comuns,
questionamentos semelhantes e um anseio compartilhado por compreensão
e conexão.
Cada artigo, com
suas palavras cuidadosamente escolhidas e emoções intrincadamente
tecidas, é uma tapeçaria de humanidade. Eles nos lembram que,
embora a jornada possa ser solitária, nunca estamos realmente
sozinhos em nossas buscas e questionamentos. A alegria, a tristeza, a
esperança, o desespero - todas estas são emoções que cada ser
humano, em algum momento, sente e entende.
Assim, ao nos
perdermos em um texto, ao nos permitirmos ser levados por suas
palavras e histórias, estamos, na verdade, nos encontrando. Estamos
sendo lembrados de que nossos sentimentos, por mais particulares que
pareçam, fazem parte de um todo maior. E é essa capacidade de se
ver refletido, de reconhecer-se em outra pessoa, de sentir-se
conectado a uma experiência ou emoção compartilhada, que torna a
leitura tão poderosa e transformadora.
Por isso, permita-se
mergulhar, permita-se explorar, permita-se ser tocado pelos textos.
Porque, como Rilke tão sabiamente observou, a verdadeira viagem,
aquela que realmente importa, não é aquela que fazemos pelo mundo
exterior, mas aquela que fazemos pelo universo infinito dentro de
nós.
Como T.S. Eliot
observou (quando olho)
(...) “O que
acontece é uma constante reavaliação do passado, e uma fusão do
passado e do presente para formar algo novo.” Sim, é verdade!
A capacidade do
artigo de nos revelar a nós mesmos reforça sua importância
transcendental na experiência humana.
Não é apenas um
veículo de expressão ou entretenimento, mas uma ferramenta poderosa
para o autoconhecimento, para quem escreve e para quem se dirige.
Vamos abrir nossos
corações e mentes para o novo, permitindo que o texto, a reflexão,
o artigo façam seu trabalho mágico de iluminar as partes escondidas
de nosso ser, ajudando-nos a compreender melhor a complexidade do que
significa ser humano.
A observação
profunda de T.S. Eliot nos remete à fluidez do tempo e à forma como
nossa compreensão do passado é moldada e remodelada por nossa
experiência presente. O passado, em sua eterna dança com o
presente, não é uma entidade estática, mas um tecido vivo que
respira, se transforma e, por sua vez, molda o presente. É como um
rio, sempre em movimento, sempre em transformação.
Neste cenário de
constante reavaliação, o artigo, com sua mágica capacidade de
expressão, torna-se uma bússola. Ele não apenas relata e narra,
mas também revela, tanto ao escritor quanto ao leitor. A escrita é
um ato de coragem, um desvendar de camadas, uma exposição da alma.
E, ao fazer isso, torna-se um espelho para o leitor, refletindo e
iluminando cantos escondidos do ser.
A magia da
literatura e do pensamento reside em sua capacidade de conectar, de
criar pontes entre mundos aparentemente distintos. Quando nos
deparamos com um texto, uma reflexão ou um artigo, não estamos
apenas lendo palavras em uma página, mas sim embarcando em uma
jornada de descoberta e introspecção. Estas palavras têm o poder
de nos transportar, de nos fazer refletir sobre nossas próprias
experiências, emoções e memórias.
E assim, quando
olhamos para um texto, ele também nos olha de volta. "Quando
olho, sou visto", esta bela noção encapsula a interação
simbiótica entre o observador e o observado. Não somos meros
espectadores passivos, mas sim participantes ativos, moldando e sendo
moldados pela experiência de leitura.
Os espelhos da
literatura refletem nossa alma, nossos anseios, nossas esperanças e
temores. E, ao fazer isso, eles nos oferecem um vislumbre da vastidão
e profundidade de nossa própria humanidade. Em sua reflexão, nos
vemos como realmente somos: seres em constante evolução,
influenciados pelo passado, moldando o presente e sonhando com o
futuro.
Nossa subjetividade,
essa essência intangível que nos define, se revela nas palavras,
nas entrelinhas, nos sentimentos evocados por um artigo. Ela é uma
lembrança de que, por trás das máscaras que usamos e das vidas que
vivemos, há um universo inteiro de emoções, pensamentos e sonhos
esperando para ser descoberto e compreendido.
Então, ao nos
engajarmos ao diálogo com literatura, com a psicanálise e com as
diversas terapias - e ao permitirmos que o pensamento se infiltre em
nosso ser, estamos não apenas consumindo, mas também contribuindo
para a tapeçaria sempre em evolução da experiência humana. E é
essa interação, essa troca, essa dança entre o eu e o outro, que
faz da leitura e da escrita uma das mais belas e enriquecedoras
jornadas que podemos empreender.
Em conclusão
(quando olho)
(...) o pensamento,
usado como pretexto - Quando olho, sou visto"- encapsula a
beleza e o mistério da relação entre o observador e o que lhe é
dado aos olhares.
Em nossa busca
constante por compreensão e conexão, encontramos, espelhos que
refletem nossa alma e nosso ser - nos retrovisores, nossa
subjetividade se nos revela - quem somos.
Por - João Barros –
Psicanalista