sexta-feira, 16 de maio de 2025

O Ser Sexual e Seus Outros – Gênero, Autorização e Nomeação em Lacan - resumo

 

O Ser Sexual e Seus Outros – Gênero, Autorização e Nomeação em Lacan

Autor: Pedro Ambra
Editora Blucher, 2022 – 512 páginas


🧠 Tese Central do Livro

Pedro Ambra propõe uma leitura inovadora da teoria da sexuação de Jacques Lacan, desafiando a visão tradicional da psicanálise sobre gênero e sexualidade. O autor articula conceitos lacanianos clássicos (como Nome-do-Pai, gozo, sinthoma, sexuação) com aportes da teoria queer, epistemologias críticas, e as experiências trans e não binárias contemporâneas.


🔍 Principais Conceitos e Contribuições

1. Sexuação como processo psíquico e político

  • Ambra critica as “fórmulas da sexuação” de Lacan, mostrando que elas não podem mais ser interpretadas como estruturas rígidas de “homem” e “mulher”.

  • Defende que a identidade de gênero é construída a partir da autorização subjetiva e da nomeação, não apenas da função fálica.

2. Nomeação e autorização

  • Introduz o conceito de "autorização sexual", um passo subjetivo onde o sujeito se reconhece e se nomeia dentro das coordenadas de gênero e gozo.

  • Isso desloca o foco da “anatomia” ou do “nome do pai” para a responsabilidade do sujeito frente à sua inscrição simbólica.

3. Crítica ao binarismo fálico

  • Lacan é reinterpretado de modo a abrir espaço para formas de gozo e de existência sexual que não se encaixam no binarismo homem-mulher.

  • A sexuação torna-se uma questão ética e política, e não apenas lógica.

4. Subjetividade queer e trans

  • Ambra dá centralidade à experiência de sujeitos trans e não binários como formas legítimas de subjetivação, mostrando que elas desafiam a concepção clássica de normatividade psicanalítica.

  • Ressalta que o sujeito se constitui frente ao desejo do Outro, mas pode renomear-se fora da norma simbólica pré-estabelecida.

5. Impasses clínicos e políticos

  • A obra não é apenas teórica: ela reflete sobre a clínica psicanalítica contemporânea, propondo escutas que contemplem o sofrimento e o desejo sem patologizar a diferença de gênero.


💬 Frase-chave do livro (de Christian Dunker):

“Chegou o momento de questionar o lugar da norma frente à autorização sexual que cada qual deve conquistar perante si e suas alteridades.”


📚 Estrutura do Livro (resumida)

CapítuloTema Central
1. Realizando a sexuaçãoLeitura crítica das fórmulas lacanianas; novos modos de pensar gênero e gozo.
2. Impasses do simbólicoRelação entre norma, cultura, desejo e constelações familiares.
3. Dos outros à nomeaçãoA importância da nomeação e do sinthoma como fundamentos da assunção de gênero.

Importância da Obra

Pedro Ambra oferece um releitura ética, política e clínica da psicanálise lacaniana, alinhando-a com as discussões contemporâneas sobre gênero. Ele propõe uma psicanálise não repressiva, plural e atualizada, capaz de acolher os sujeitos em sua diversidade e singularidade.

Artigos e textos fundamentais

 Vários artigos e textos fundamentais para explorar a questão da minha inquietação: a identificação com a mãe no modelo lacaniano, e como isso se articula com gênero, subjetividade e transexualidade na psicanálise contemporânea. 

Abaixo estão os principais destaques e seus respectivos links.

🧠 Síntese Geral: Lacan, identificação com a mãe e identidade de gênero

Na teoria lacaniana, a identidade de gênero não deriva diretamente do corpo biológico, mas da posição do sujeito no campo do desejo do Outro (geralmente a mãe) e da entrada na ordem simbólica via o "Nome-do-Pai".

Vários autores contemporâneos têm expandido esse modelo para explicar que:

  • Uma identificação precoce com a mãe — não apenas como objeto de desejo, mas como modelo afetivo ou ético — pode gerar uma estruturação de gênero que não se alinha com o binarismo tradicional.

  • Isso pode resultar, por exemplo, em vivências femininas ou transgênero em sujeitos designados homens ao nascer.

  • Em alguns casos, a recusa simbólica do pai e o desejo de "fazer o papel da mãe" (como no seu exemplo, para poupá-la do sofrimento) pode gerar formas singulares de subjetividade.


📚 Principais leituras recomendadas:

1. Paulo César Junqueira – “Identidade de Gênero e Psicanálise”

Discussão sobre a identidade de gênero como identificação primária com a mãe, incorporando Lacan e Robert Stoller.
📄 PDF – SPCRJ


2. Araújo, FM – “Racismo, psicanálise, Lacan”

Trata diretamente de identificações fora do modelo tradicional edipiano, e como elas podem gerar experiências de gênero dissidentes.
📄 PDF – ANPOF


3. Marlene Arán – “Subversões do desejo: Butler e Lacan”

Integra Lacan e Judith Butler, discutindo como a identificação com a mãe pode se tornar um gesto de subversão da norma de gênero.
🌐 HTML – SciELO


4. Jornal Caderno PAIC – “Imagem Corporal e Narcisismo na Construção da Identidade de Gênero”

Explora o papel do narcisismo e do olhar da mãe na formação da identidade de gênero.
📄 PDF – EMnuvens


5. Teixeira, MC – “Mudar de Sexo: uma prerrogativa transexualista”

Analisa a identificação precoce com a mãe como elemento central na construção de uma subjetividade trans.
📄 PDF – BVS-PePSIC


6. Gabriel, LC & Souza, M – “Subjetividade e Diferença Sexual”

Faz uma leitura crítica do falogocentrismo na psicanálise, incorporando perspectivas feministas e queer.
📄 PDF – Interamerican Journal


7. P. Ambra – “O Ser Sexual e seus Outros” (Livro)

Reinterpreta Lacan para tratar da nomeação e autorização de gênero, incluindo casos em que a feminilidade é uma identidade primeira.
📄 PDF – Amostra do livro


8. Vaz & Chaves – “Multiplicidade Feminina e Transgressão em Irigaray”

Artigo que insere Lacan numa crítica mais ampla ao binarismo sexual, centrando a mãe como foco do desejo e da identidade.
📄 PDF – Analytica


quinta-feira, 15 de maio de 2025

A Dor Que Não Faz Barulho

 



A Dor Que Não Faz Barulho

por Abilio Machado, Psicoarteterapeuta


Num domingo qualquer, os sinos tocam na igreja da esquina, o parque se enche de risadas, e a bola corre solta entre crianças de tênis gasto. Mas em algum canto, um olhar se baixa quando deveria brilhar. Um corpo se encolhe mesmo ao sol. É domingo — e também o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.


156 notificações por dia. Mas quantas não chegam à estatística? Quantas vozes continuam presas, sem eco, afundadas na culpa, no medo, na vergonha que não lhes pertence? Porque o abuso não é apenas o ato violento em si — é o silêncio que vem depois. É a dor que ninguém vê, mas que molda tudo: o jeito de andar, o tom da voz, a forma de amar — ou de não conseguir mais amar.


A criança abusada, muitas vezes, continua indo à escola. Sorri nas fotos. Brinca no quintal. Mas algo está fora do lugar. O corpo começa a dar sinais antes mesmo que as palavras consigam. Um comportamento sexualizado precoce. Um isolamento repentino. Agressividade sem causa aparente. Medo desproporcional de certas pessoas ou lugares. Insônia, pesadelos, perdas cognitivas, queda no rendimento escolar. E o mais difícil: às vezes, tudo parece normal — mas ela parou de ser ela.


É aí que a atenção do adulto faz toda a diferença. O papel de quem cuida não é apenas prover alimento e abrigo. É enxergar o invisível. Ouvir o que não está sendo dito. Não minimizar. Não calar. Porque o abuso sexual raramente deixa marcas visíveis no corpo — mas arranca pedaços da alma.


E se for em casa? Se for com alguém próximo? Infelizmente, mais de 70% dos casos registrados envolvem alguém do círculo familiar ou de confiança. E isso torna tudo mais cruel. A criança aprende a duvidar de si mesma. A pensar que ela permitiu. Que mereceu. A carregar sozinha uma culpa que o adulto abusador deveria arrastar com correntes.


Neste domingo, a gente não quer flores nem palmas. A gente quer olhos atentos. Quer que o vizinho escute o choro ao lado. Que o professor perceba o silêncio diferente. Que o pediatra leia o medo no toque. Que a família creia antes de duvidar. A gente quer que cada adulto entenda que não saber é omissão, e que suspeitar e não agir pode ser cumplicidade.


E se o grito vier tímido, entre desenhos ou pesadelos contados, não interrompa. Acolha. Escute. E denuncie. O Disque 100 funciona todos os dias. E a denúncia pode salvar uma vida — ou a alma dela.


Neste domingo, a infância pede socorro. E quem ouve, pode ser a diferença entre a cicatriz e a ferida aberta.

Alguns cards que você pode compartilhar em suas redes...











quarta-feira, 14 de maio de 2025

Mediação Familiar: Um Caminho para o Reencontro com o Diálogo

 


Mediação Familiar: Um Caminho para o Reencontro com o Diálogo


Por Abilio Machado, psicoterapeuta

Conflitos familiares são parte da vida, mas quando a comunicação se torna disfuncional e as emoções tomam proporções que impedem o entendimento, é preciso buscar alternativas saudáveis para restabelecer o equilíbrio. A mediação familiar tem se destacado como um recurso eficaz na resolução de impasses, promovendo escuta ativa, empatia e construção conjunta de acordos.

O que é Mediação Familiar?

A mediação familiar é um processo voluntário, confidencial e conduzido por um profissional imparcial — o mediador — que atua como facilitador do diálogo entre os envolvidos. O objetivo não é definir culpados ou impor soluções, mas abrir caminhos para que as próprias partes encontrem, juntas, alternativas viáveis e respeitosas para suas demandas.

Segundo Goldschmidt (2018), "a mediação familiar propõe um olhar para além do litígio, priorizando o restabelecimento da comunicação e o reconhecimento das emoções como parte legítima do conflito."

Quando Utilizar a Mediação?

A aplicação da mediação familiar é ampla. Pode ser usada em:

  • Separações e divórcios

  • Definição de guarda, visitas e pensão alimentícia

  • Conflitos entre pais e filhos

  • Questões entre irmãos, avós e demais membros da família

  • Disputas relacionadas a heranças e cuidado de idosos

Esses contextos frequentemente envolvem dores profundas, muitas vezes acumuladas ao longo dos anos, que tornam difícil a tomada de decisões racionais. Nesses momentos, a mediação atua como um canal de reconexão.

Como Funciona o Processo?

O processo é estruturado em etapas:

  1. Pré-mediação: Realiza-se uma avaliação preliminar com cada parte, para compreender a situação e verificar se há disposição e segurança emocional para iniciar o processo.

  2. Sessões de mediação: Podem ser individuais ou em conjunto. O mediador conduz os encontros com escuta ativa e imparcialidade, facilitando a expressão de sentimentos, necessidades e interesses.

  3. Construção de acordos: As partes, com o apoio do mediador, constroem soluções próprias e consensuais.

  4. Formalização (quando necessário): Os acordos podem ser registrados e, em alguns casos, levados à homologação judicial.

Importante destacar que o papel do mediador é ético, neutro e respeitoso. Ele não dá conselhos nem impõe decisões, apenas orienta o processo para que ele ocorra de forma segura e produtiva.

Um Caso Real (com nome fictício)

“Fernanda” e “Carlos” buscavam uma separação litigiosa após anos de desgaste no relacionamento. Tinham dois filhos pequenos e divergências sobre guarda e divisão de bens. A tensão era constante, e os filhos começavam a manifestar sinais de sofrimento emocional. A mediação familiar permitiu que, em poucas sessões, ambos pudessem expressar suas mágoas, reconhecer erros e chegar a acordos que priorizassem o bem-estar das crianças. Ao final, além dos acordos práticos, houve um reconhecimento mútuo da importância de preservar a parentalidade, mesmo com o fim do casamento. (Nomes alterados para preservar a identidade das pessoas envolvidas.)

Benefícios da Mediação Familiar

De acordo com Marina Melillo (2021), especialista em resolução de conflitos, “a mediação oferece um espaço de escuta que não existe no sistema judicial tradicional. É mais humana, menos burocrática e mais efetiva.”

Outros benefícios incluem:

  • Preservação dos vínculos afetivos, especialmente em famílias com filhos

  • Acordos mais duradouros, pois são construídos em comum acordo

  • Custo menor e maior agilidade em relação aos processos judiciais

  • Resgate da autonomia das partes envolvidas

  • Redução dos impactos emocionais gerados por longas disputas

Conclusão

Em um mundo onde tantas famílias se veem imersas em conflitos silenciosos ou barulhentos, a mediação surge como um espaço de reconstrução possível. Não se trata de apagar dores, mas de criar um ambiente onde elas possam ser compreendidas, ressignificadas e transformadas em aprendizados e acordos reais.

Se você está enfrentando dificuldades em sua família e sente que o diálogo se perdeu, considere a mediação como uma alternativa segura, ética e respeitosa. Em muitos casos, ela pode ser o ponto de virada necessário para restabelecer relações ou encerrar ciclos com dignidade.


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Referências:

  • Goldschmidt, R. (2018). Mediação Familiar: Um caminho possível. São Paulo: Saraiva.

  • Melillo, M. (2021). Conflito e Comunicação: mediação como ferramenta de escuta. Revista Brasileira de Mediação e Conciliação, 5(2), 45-59.


Psicopatia: Características, Comportamentos e Exemplos Clinicos

 Este articulo faz parte do estudo pessoal apresentado como trabalho acadêmico...



Psicopatia: Características, Comportamentos e Exemplos Clínicos


Introdução


A psicopatia é um transtorno de personalidade caracterizado por traços emocionais, interpessoais e comportamentais marcadamente desviantes. Embora frequentemente associada à criminalidade, a psicopatia pode se manifestar em diversos contextos sociais e profissionais, muitas vezes passando despercebida.


Como a Psicopatia se Apresenta


A psicopatia é amplamente estudada dentro da psicologia forense, especialmente com base na Psychopathy Checklist – Revised (PCL-R), desenvolvida por Robert Hare. Os principais traços incluem:


Falta de empatia e remorso


Superficialidade emocional


Egocentrismo e manipulação


Comportamento impulsivo e irresponsável


Tendência ao tédio e necessidade de estimulação



Segundo Hare (1991), “psicopatas são predadores sociais que encantam, manipulam e dominam suas vítimas com frieza, obtendo o que querem com charme e violência, deixando um rastro de corações partidos e expectativas destruídas”.


Como Age o Psicopata


Os psicopatas geralmente não se envolvem emocionalmente com os outros, mesmo aparentando o contrário. São especialistas em imitar emoções para obter vantagem. Na prática, isso pode se manifestar de duas formas:


Psicopatas criminais: Envolvidos em crimes violentos, fraudes, assassinatos ou estelionatos, muitas vezes com reincidência.


Psicopatas “bem-sucedidos” ou corporativos: Presentes em cargos de poder, onde manipulam, mentem e exploram os outros sem violar explicitamente a lei.



Cleckley (1988) descreveu o psicopata como alguém com “máscara de sanidade” — aparência normal, mas emocionalmente vazio.


Intenções e Motivação


Ao contrário de transtornos mentais graves como a esquizofrenia, o psicopata tem plena consciência de seus atos. Sua motivação gira em torno de:


Controle e poder


Gratificação pessoal


Ausência de freios morais



Eles não são necessariamente movidos por ódio ou desejo de vingança, mas sim pelo prazer em dominar, explorar ou manipular os outros.


Exemplos Notórios


Diversos casos ilustram comportamentos psicopáticos. Um exemplo histórico é Ted Bundy, serial killer norte-americano que assassinou dezenas de mulheres, mantendo uma fachada de homem carismático e educado. Ele é frequentemente citado como o arquétipo do psicopata clássico.


Já no ambiente corporativo, estudos como o de Babiak e Hare (2006) mostram que entre 3% e 4% dos executivos de alto escalão atendem a critérios clínicos para psicopatia, embora de forma “socialmente adaptada”.


Conclusão


A psicopatia é um transtorno profundo e complexo. Embora frequentemente retratada na mídia como sinônimo de violência extrema, ela também pode se manifestar em formas mais sutis e socialmente aceitas. Entender a psicopatia é essencial não apenas para a psicologia clínica, mas também para a sociedade como um todo.


Referências


Hare, R. D. (1991). Without Conscience: The Disturbing World of the Psychopaths Among Us. New York: The Guilford Press.


Cleckley, H. (1988). The Mask of Sanity. 5th ed. St. Louis: Mosby.


Babiak, P., & Hare, R. D. (2006). Snakes in Suits: When Psychopaths Go to Work. New York: HarperBusiness.


Patrick, C. J. (2006). Handbook of Psychopathy. New York: Guilford Press.



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terça-feira, 13 de maio de 2025

O Berço de Silicone

 "Quando a fantasia deixa de ser abrigo e se torna moradia, talvez estejamos tratando o sintoma como afeto, e o vazio como escolha."

— Abilio Machado, Psicoarteterapeuta



Fiz um comentário ontem sobre os bizarros casos de adoção de bebê  reborn e de um parto filmado em hospital de um bebê reborn, fiz uma piada, porém depois me prestei a analisar e escrevi esta crônica...

O BERÇO DE SILICONE 

Por Abilio Machado, Psicoarteterapeuta. 

Outro dia, no banco da praça, entre o algodão doce e o som cansado do realejo, vi uma cena que me obrigou a piscar duas vezes. Uma mulher, de uns trinta e poucos, empurrava um carrinho de bebê com a ternura de uma mãe recente. Nada de estranho, não fosse o silêncio. O bebê, rosado, quieto demais, com olhos de vidro e cílios colados com precisão quase cirúrgica, não era um bebê. Era um reborn.


Vivemos tempos curiosos, de afetos reinventados e vínculos deslocados. Há quem diga que isso é fuga. Outros, que é doença. E há ainda quem enxergue uma forma legítima de monismo emocional: a tentativa de preencher um vazio com o que se tem à mão — ainda que seja silicone, vinil e um cheirinho artificial de talco.


Disfunção? É possível — em certos casos. Psicólogos relatam que esse tipo de comportamento pode surgir de lutos não elaborados, especialmente após a perda de um filho. Há também situações mais graves, ligadas a transtornos de personalidade ou até quadros psicóticos, onde a linha entre realidade e fantasia se esgarça perigosamente. Algumas pessoas usam os reborns como substitutos simbólicos para traumas antigos, ou como consolo diante de uma maternidade que não aconteceu. Nesses contextos, o boneco não é brinquedo: é sintoma. Mas seria injusto generalizar. Para outras, trata-se de arte, colecionismo afetivo ou mesmo uma forma de autocuidado. Como quem pinta quadros ou fala com plantas, elas sabem que o bebê não vive — mas ainda assim, cuidam.


O problema talvez não esteja apenas na boneca, mas na sociedade que assiste e, sem questionar, normaliza tudo. Em nome da empatia, evitamos qualquer desconforto, mesmo que ele aponte para um declínio mais profundo. A linha entre compreensão e conivência tem se tornado tênue. Em algum momento, deixamos de enxergar que há comportamentos que não pedem aceitação imediata — mas sim análise, cuidado, e até limites. Quando adultos passam a brincar de boneca com total investimento emocional, como se a fantasia pudesse substituir a vida real, será que não estamos assistindo à infantilização progressiva da maturidade?



Normatizar tudo é uma forma elegante de fugir da crítica, mas é também um sintoma — talvez o maior deles. A dificuldade de lidar com a dor, com o fracasso, com o tempo — tudo isso nos empurra para os braços acolchoados de um mundo plástico, onde nada exige, tudo conforta. E se estamos todos nos abrigando em bolhas de fantasia, quem está olhando com lucidez para a realidade?


O shopping virou berçário. O parquinho, maternidade tardia. Enquanto isso, os bancos da praça testemunham, mudos, esse curioso parto sem dor, onde a vida se imita com perfeição assustadora. Talvez estejamos apenas tentando encontrar, em meio ao excesso de realidade, um pouco de ficção para chamar de nossa.

__________________________________________________

Abilio Machado 

Psicoarteterapeuta ICH

Neuropsicopedagogo ICH

Docente em Artes, Filosofia e Teologia 

Avaliador Psicológico 

Pós graduando em Psicanálise,  Psicoterapia e Psicopatologia do Adolescente 


quinta-feira, 1 de maio de 2025

O Consumo de Álcool e o Desenvolvimento de Diversos Tipos de Câncer

 



O consumo de álcool está associado a um maior risco de desenvolver diversos tipos de câncer. A Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC) e outras organizações reconhecem o álcool como um fator carcinogênico. O risco aumenta com a quantidade e frequência do consumo, E NÃO HÁ UM NÍVEL SEGURO DE CONSUMO para prevenção do câncer. Tipos de Câncer Associados ao Álcool:


Câncer de boca, faringe, laringe, esófago:

O álcool é um fator de risco conhecido para esses tipos de câncer devido à irritação e danos diretos às células. 


Câncer de fígado:

O álcool pode causar danos ao fígado, levando a cirrose e, consequentemente, a um aumento do risco de câncer. 


Câncer de mama:

O álcool pode alterar os níveis hormonais e aumentar o risco de câncer de mama. 


Câncer de intestino (cólon e reto):

O álcool pode aumentar o risco de desenvolver câncer colorretal. 


Câncer de estômago:

Estudos indicam que o álcool pode estar relacionado ao aumento do risco de câncer de estômago. 


Câncer de pâncreas:

Alguns estudos sugerem uma associação entre o consumo de álcool e o aumento do risco de câncer de pâncreas. 


Mecanismos de Ação:


Danos ao DNA:

O álcool e seus metabólitos (como o acetaldeído) podem danificar o DNA, aumentando o risco de mutações e desenvolvimento de câncer. 


Inflamação:

O álcool pode induzir a inflamação crônica no organismo, o que pode contribuir para o desenvolvimento de câncer. 


Alterações hormonais:

O álcool pode afetar os níveis hormonais, aumentando o risco de alguns tipos de câncer, como o de mama. 


Danos diretos aos órgãos:

Alguns órgãos, como o fígado, boca e intestino, sofrem danos diretos pelo álcool, aumentando o risco de desenvolver câncer nesses locais. 


Recomendações:


Evitar o consumo de álcool: A melhor forma de prevenir o câncer é não consumir álcool. 


Limitar o consumo: Se for consumir álcool, deve ser em quantidades limitadas e com moderação. 


Buscar orientação médica: Se tiver alguma dúvida sobre o consumo de álcool e o risco de câncer, é importante buscar orientação médica. 


Foto: cancer de boca

PSICÓLOGO AMGO OU AMIGO PSICÓLOGO

  Na delicada dança das relações humanas, um verso inesperado ecoa: "Muitas vezes não se quer um psicólogo, e sim um amigo." Essa...