O Centímetro Invisível
Por Abilio Machado
Era uma vez um homem… que olhava para baixo e suspirava. Nada de errado com ele, aparentemente, exceto pelo fato de que aquele pensamento insistente o acompanhava como um fantasma desde a adolescência: “E se for pequeno demais?”
Freud, claro, teria muito a dizer sobre isso—afinal, o pênis não é apenas um órgão, mas um símbolo de potência, identidade, virilidade. Ou assim nos fizeram acreditar. E é aí que começa o problema.
Desde os primeiros comparativos nos vestiários da escola até as pesquisas frenéticas na internet, a busca pela validação gira em torno de centímetros que ninguém nunca mediu oficialmente, mas que definem silêncios constrangedores e sexos de luz apagada.
Na psicanálise, essa angústia não é apenas sobre o tamanho, mas sobre o olhar do outro. O superego, essa entidade cruel que internaliza as normas da sociedade, fica repetindo como um juiz severo: “Será que vou ser suficiente?”. A autoestima oscila entre a expectativa e a realidade, e muitas vezes a solução encontrada é fingir que nada está acontecendo—evitar a nudez pública, omitir detalhes nas conversas entre amigos, deixar o ambiente escuro e confiar que o mistério seja mais sedutor que a revelação.
No entanto, a verdade é que essa inquietação nunca foi sobre centímetros, mas sobre identidade. A masculinidade, tão vendida como uma questão de poder, acaba se confundindo com medidas físicas que, para muitos, definem seu próprio valor. Mas e se não definisse?
Afinal, quem realmente mede prazer com régua? Quem define potência por estatísticas? E quem, no final das contas, não se perde em suas próprias inseguranças, sejam elas sobre tamanho, forma ou desempenho?
Talvez fosse hora de revisar esses conceitos, abandonar os mitos, tirar a fita métrica do bolso e perceber que, no jogo dos desejos, os melhores centímetros são aqueles que ninguém calcula—mas que todos sentem.