domingo, 8 de junho de 2025

DOUTOR ESTOU COM MEDO! FANTASIAS DE CRIANÇAS HOSPITALIZADAS







DOUTOR ESTOU COM MEDO! FANTASIAS DE CRIANÇAS HOSPITALIZADAS

PSICOLOGIA

Psicologia no Hospital, Intervenção Psicológica em crianças hospitalizadas, medos e Fantasias, e o brincar no contexto hospitalar.

ÍNDICE


1. RESUMO


2. INTRODUÇÃO


2.1 A Psicologia no Hospital Geral


2.2 Intervenção Psicológica no Hospital Geral.


2.3 Crianças no Ambiente Hospitalar


3. JUSTIFICATIVA


3.1 JUSTIFICATIVA PESSOAL


3.2 JUSTIFICATIVA SOCIAL


3.3 JUSTIFICATIVA ACADÊMICA


4. OBJETIVOS


4.1 OBJETIVO GERAL


4.2 OBJETIVOS ESPECIFICOS


5. MÉTODO


6. RESULTADOS E DISCUSSÃO


6.1 Medos e Fantasias


6.2 O Medo da Morte?


6.3 O Brincar no contexto Hospitalar


7. CONSIDERAÇÕES FINAIS


8. REFERÊNCIAS


1. RESUMO

O desafio da psicologia hospitalar é minimizar o sofrimento provocado pela hospitalização, pela doença e sua consequente desestabilização emocional, tanto do paciente como de seus familiares. Quando se trata de uma criança o desafio é ainda maior, pois diferente do adulto, o impacto da internação no hospital é mais intenso, uma vez que as crianças têm dificuldades para assimilar esta situação, apresentando medo, angústia ou ansiedade, coloridos por fantasias muitas vezes causadas pela falta de informação adequada. Dessa forma, o objetivo desse trabalho é realizar uma Revisão Bibliográfica da literatura nacional nas bases de dados Index Psi, Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e Google Acadêmico dos últimos quinze anos, utilizando as seguintes palavras-chave: psicologia + hospital geral; intervenção psicológica + hospital geral; crianças + ambiente hospitalar; brincar + contexto hospitalar; o brincar + contexto hospitalar + medos + fantasias + medo morte. A metodologia utilizada para a elaboração desse estudo foi a pesquisa bibliográfica, destacando a identificação dos medos e fantasias que as crianças enfrentam durante a hospitalização e as implicações destes no processo de cura. Acredita-se que a caracterização de tais medos poderá auxiliar a atuação da equipe multidisciplinar dos hospitais e a compreensão dos familiares da criança enferma que vivenciam o processo de hospitalização. Uma das maneiras que os autores preconizam como alternativa de enfrentamento às situações de crise é o brincar no contexto hospitalar. O que auxilia no aspecto emocional, no restabelecimento físico e no enfrentamento do âmbito hospitalar, tornando-o menos traumatizante.

Palavras-chave: Crianças, hospital, medos, fantasias, adoecimento.

2. INTRODUÇÃO

A psicologia hospitalar é uma ciência nova, com menos de duas décadas, que vem construindo sua história e conquistando seu espaço nos hospitais gerais do mundo todo. “A Psicologia é uma das mais antigas disciplinas acadêmicas, ao mesmo tempo em que é também uma das mais novas”. (SCHULTZ E SCHULTZ, 1981 apud. MOSIMANN & LUSTOSA, 2011, p. 202). A escuta terapêutica, mais conhecida na forma da atuação clínica, agora para os hospitais gerais, vem acolhendo pacientes, familiares de pacientes enfermo e até mesmo a equipe multidisciplinar de saúde. Este trabalho tem propósito de reunir assuntos atuais onde mostrará a importância do psicólogo junto as instituições de saúde com foco em crianças hospitalizadas, identificando medos e fantasias.

definição do psicólogo hospitalar de acordo com a definição do órgão que rege o exercício profissional do psicólogo no Brasil, o CFP (2003, apud. CASTRO & BORNHOLDT, 2004, p. 50):

O psicólogo especialista em Psicologia Hospitalar tem sua função centrada nos âmbitos secundário e terciário de atenção à saúde, atuando em instituições de saúde e realizando atividades como: atendimento psicoterapêutico; grupos psicoterapêuticos; grupos de psicoprofilaxia; atendimentos em ambulatório e unidade de terapia intensiva; pronto atendimento; enfermarias em geral; psicomotricidade no contexto hospitalar; avaliação diagnóstica; psicodiagnóstico; consultoria e inter-consultoria.

No Brasil, os psicólogos hospitalares tem seu trabalho reconhecido pelo Conselho Federal de Psicologia (2010), onde o termo tem sido utilizado para associar o trabalho que os psicólogos da saúde realizam dentro das instituições. “A Associação Americana de Psicologia (APA, 2010 apud. ALMEIDA et al, 2011) demarca o trabalho do psicólogo em hospitais como um dos possíveis locais de atuação do psicólogo da saúde”. (ALMEIDA et al, 2011, p. 191)

E a definição para a Psicologia da Saúde, “tem como objetivo compreender como os fatores biológicos, comportamentais e sociais influenciam na saúde e na doença”. (APA, 2003 apud. CASTRO & BORNHOLDT, 2004, p.49):

Na pesquisa contemporânea e no ambiente médico, os psicólogos da saúde trabalham com diferentes profissionais sanitários, realizando pesquisas e promovendo a intervenção clínica. Complementar a essa definição, o Colégio Oficial de Psicólogos da Espanha (COP, 2003) conceitua a Psicologia da Saúde como a disciplina ou o campo de especialização da Psicologia que aplica seus princípios, técnicas e conhecimentos científicos para avaliar, diagnosticar, tratar, modificar e prevenir os problemas físicos, mentais ou qualquer outro relevante para os processos de saúde e doença. Esse trabalho pode ser realizado em distintos e variados contextos, como: hospitais, centros de saúde comunitários, organizações não-governamentais e nas próprias casas dos indivíduos. A Psicologia da Saúde também poderia ser compreendida como a aplicação da Psicologia Clínica no âmbito médico.

Psicologia da Saúde busca compreender e entender o papel do Psicólogo na manutenção da saúde. O foco do psicólogo da saúde é realizar intervenções com o objetivo de prevenir doenças e auxiliar no manejo ou no enfrentamento das mesmas, além de desenvolver pesquisas para auxiliar em trabalhos posteriores que contribuam para essa área especifica da psicologia.

lmeida (et al, 2015, p. 756) “A maioria dos psicólogos da saúde trabalha em hospitais, clínicas e departamentos acadêmicos de faculdades e universidades”. O psicólogo na atuação dentro da clínica, pode fornecer atendimento a pacientes enfermos e dentro desses atendimentos o profissional de Psicologia faz uso de “métodos psicológicos para ajudá-los a manejar ou gerir os problemas de saúde, como aprender a controlar as condições de dor”. (SERAFINO, 2004 apud. LMEIDA et al, 2015, p. 756). Nas intervenções dentro das instituições hospitalares, a atuação do profissional deve abranger não só o paciente, como a família do mesmo e os profissionais da equipe interdisciplinar de saúdelmeida (2015) cita diversos autores que relatam a importância do trabalho do psicólogo junto à família do enfermo e a importância, de estabelecer o vínculo entre a família e equipe técnica e a importância da comunicação.

Romano, (ANGERAMI-CAMON, TRUCHARTE, KNIJNIK & SEBASTIANI, 2006 apud. LMEIDA et al, 2011, p. 198)

A família, igualmente angustiada e sofrida, que se sente impotente para ajudar seu familiar e que também se assusta com o espectro da morte, também precisa da atenção do psicólogo e deve ser envolvida no trabalho com o paciente por ser uma das raras motivações que este tem para enfrentar o sofrimento. O psicólogo deve facilitar, criar e garantir a comunicação efetiva e afetiva entre paciente/família e equipe, identificando qual membro da família tem mais condições intelectuais e emotivas para estar recebendo as informações da equipe.

Já Teixeira (2004, apud. ALMEIDA et al, 2011, p. 191) afirma que o psicólogo da saúde em uma unidade hospitalar, pode prestar assistência no ambulatório clínico, na de Unidade de Terapia Intensiva/UTI e Centro de Terapia Intensiva/CTI que são as unidades de emergência ou pronto-socorro, unidades de internação ou enfermarias.

2.1. A Psicologia no Hospital Geral

Psicologia Hospitalar é uma extensão da atuação da psicologia, depois da atuação nas clinicas, a psicologia dentro do contexto hospitalar tem ganhando força. A noção de que urgência de vida e morte se contrapõem às noções de produtividade e resultados marcaram discursos resistentes à apropriação e uso de métodos de gestão (SILVEIRA, 2010 apud. FERRARI & et al, 2013, p. 61). 

Psicologia é uma ciência nova, no Brasil, alguns conceitos psicológicos apareceram no “período colonial” ainda que a psicologia tenha se tornado uma ciência entre os séculos XIX-XX, juntamente com os campos educacional e médico. Este período se tornou conhecido como período áureo dos laboratórios de psicologia experimental, em hospitais ou em escolas de formação de professoras. (MESQUITA et al, 2013).

Mesquita et al (2013) afirmam que ao se falar sobre a história da psicologia hospitalar, se faz necessário citar nomes de profissionais que marcaram a história da psicologia hospitalar no Brasil: “Falar de Mathilde Neder e Belkiss Romano Lamosa, sem demérito a tantos profissionais que arduamente militam na área, é evocar os rumos da Psicologia Hospitalar.” (CAMON, 2009, p. 3 apud. MESQUITA et al, 2013, p. 90). Por se tratar da relação que ambas tiveram com o pioneirismo e expansionismo das atividades da referida área da Psicologia

Camon (2009 apud. MESQUITA et al, 2013) aponta algumas datas referentes a atuação da psicologia dentro do contexto hospitalar e que influenciaram técnicas que se apresentam nos dias atuais. Foram essas, algumas datas que marcaram a história, início e evolução:

No ano de 1954, Neder, atuando na Clínica Ortopédica e Traumatológica do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), deu início à psicologia hospitalar no Brasil. Neder foi convidada para preparar psicologicamente os pacientes que se submeteriam a cirurgias de coluna, assim como a recuperação pós-cirúrgica. A autora utilizou a Psicoterapia Breve, uma técnica que visava agilidade nesses atendimentos no sentido de adequá-los à realidade institucional. Já em 1957, Mathilde Neder ao se transferir para o Instituto Nacional de Reabilitação da USP, melhorou o dimensionamento das atividades antes realizadas. (MESQUITA et al, 2013).

Segundo Gorayebe (2001), a década de 1960 foi uma data de marco histórica, pois foi quando os primeiros psicólogos começaram a atuar em instituições hospitalares, com base na atuação clínica e trabalhando muitas vezes como auxiliar dos psiquiatras, sem participar ativamente do atendimento ao paciente.

Prosseguindo com algumas datas importante para a história da Psicologia dentro das Instituições de Saúde, Rocha (2004 apud. MESQUITA et al, 2013) cita alguns dados históricos que relatam atuações dos primeiros psicólogos em hospitais, como em 1974, é criado o Serviço de Psicologia da Divisão de Reabilitação Profissional do Hospital das Clínicas sob a direção de Neder, e, sob a direção de Belkiss Lamosa, o Serviço de Psicologia do Instituto do Coração. Em 1977 acontece a implantação do Serviço de Psicologia do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, onde Lamosa iniciou um trabalho aberto à população em geral.

inda segundo Rocha (2004 apud. MESQUITA et al, 2013), em 1979, surge em Brasília, com Regina D’Aquino, no Instituto Transpessoal, um trabalho com a família e a equipe médica junto ao paciente terminal. Nesse mesmo ano, Wilma Torres inicia o Programa de Estudos e Pesquisas em Tanatologia no Instituto Superior de Estudos e Pesquisas da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. Em 1981, o Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo oferece aos alunos graduados em Psicologia, o curso de Especialização em Psicologia Hospitalar, sob a responsabilidade de Angerami-Camon.

Nessas datas importantes, pode-se perceber o avanço da Psicologia Hospitalar no Brasil e que segundo Sebastiani (2005 apud. MESQUITA et al, 2013, p. 91).

Pesquisas apontam o Brasil como o precursor mundial da Psicologia Hospitalar, uma nova especialidade que utiliza os conhecimentos da Psicologia para aplicá-los nos processos doença-internação-tratamento, os quais relacionam: paciente-família-equipe de saúde e utiliza teorias e técnicas especificas para a atenção às pessoas hospitalizadas com demandas psicológicas ligadas a tais processos, como também as reações que podem agravar o problema do paciente ou dificultar o processo de recuperação.

Fazer Psicologia no ambiente hospitalar é ser cauteloso com vidas humanas, ficar atento e observar tudo que envolve o paciente, e não menos importante, seus direitos, suas representações, medos e fantasias. É ainda ter como foco o acompanhamento psicológico e os processos psíquicos que surgem durante a experiência de internação. É minimizar o sofrimento do paciente, ajudando-o a lidar com a patologia e suas emoções, assim como ajudar os familiares do sujeito nesse processo, e não menos importante, auxiliar a equipe técnica.

2.2. Intervenção Psicológica no Hospital Geral.

Nos dias atuais, a psicologia é mais conhecida nas áreas clínicas, porém tem se destacado em diversas áreas do mercado, inclusive na hospitalar. Com um pouco mais de meio século, a psicologia entrou em instituições hospitalares, embora pouco se conhecesse sobre essa ciência na época, a psicologia não deixou de fazer sua história e com o tempo foi estabelecendo suas atividades, assim os psicólogos foram trilhando seus caminhos dentro dos hospitais (FOSSI & GUARESCHI, 2004). Com o tempo, as intervenções psicológicas se modificaram e hoje o paciente hospitalizado não é percebido como sendo semelhante ao de consultório, ou seja, a técnica usada em ambas as áreas são diferentes, visto que o paciente enfermo não procurou por ajuda espontaneamente e pode não apresentar quadros de psicopatologia.

A Psicologia Hospitalar não pertence unicamente à área clínica, ela abrange áreas como educacional, organizacional e social, utilizando-se de recursos técnicos, metodológicos e teóricos de diversos saberes psicológicos. (FOSSI & GUARESCHI, 2004)

A atuação do psicólogo dentro do contexto hospitalar, tem se mostrado eficaz, não só na questão da saúde do paciente, mas na atenção que é dispensada à família e à equipe de saúde. O psicólogo pode propor atividades curativas e de prevenção, diminuindo o sofrimento que a hospitalização e a doença causam ao sujeito enfermo (FOSSI & GUARESCHI, 2004). A importância da atuação do psicólogo junto à equipe de saúde é de extrema importância, pois a saúde mental desses profissionais é tão importante quanto a do paciente hospitalizado. Visa diretamente o bem estar do profissional de saúde já que o mesmo tem de lidar com patologias no seu dia-a-dia, e de certa forma, lidar com o sofrimento psíquico desses indivíduos internados, estar preparado psiquicamente para isso, o que garante que o trabalho seja feito com atenção, praticidade e foco.

Segundo Fossi e Guareschi (2004) as equipes médicas, e demais funcionários do hospital, relatam que, em alguns casos, somente a ajuda médica não basta para o tratamento ser bem sucedido: No trecho em destaque, pode se observar a importância do trabalho da psicologia na equipe interdisciplinar dentro do contexto hospitalar:

O ser humano é muito mais que um corpo físico, e assim, o atendimento integral à saúde é indiscutível. Portanto, a integração da equipe de saúde é imprescindível para que o atendimento e o cuidado alcance a amplitude do ser humano, considerando as diversas necessidades do paciente e assim, transcendendo a noção de conceito de saúde, de que a ausência de enfermidade significa ser saudável. (FOSSI & GUARESCHI, 2004, p. 31)

A boa relação da equipe técnica é de extrema importância, pois em alguns casos “somente a ajuda médica não basta para o tratamento ser bem sucedido: o ser humano é muito mais que um corpo físico, e assim, o atendimento integral à saúde é indiscutível”. (FOSSI & GUARESCHI, 2004, p. 31). Portanto, deve-se considerar as necessidades do paciente, entendendo o conceito de saúde: “completo bem estar biopsicossocial”, para isso, é indispensável uma boa comunicação com a equipe técnica para que o atendimento e o cuidado alcancem o resultado esperado. No trecho em destaque, pode-se observar um pouco mais sobre a importância da comunicação da equipe técnica dentro do âmbito hospitalar:

Dessa forma, o trabalho em equipe mostra-se fundamental para o atendimento hospitalar, na medida em que médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais e os demais profissionais envolvidos nesse atendimento estabeleçam uma integração, para que a pessoa seja tomada como um todo, para que ela possa ter um atendimento humanizado, contemplando assim, outras necessidades dos usuários. (FOSSI & GUARESCHI, 2004, p. 31).

Santos (2012) cita algumas funções do psicólogo hospitalar e suas tarefas básicas. Essas seriam: funções de coordenação, função de auxilio, função de interconsulta, função de enlace, assistência direta e função de gestão. Essas tarefas básicas tem como objetivo primeiro estar conectado diretamente com os funcionários da instituição, intervindo na qualidade do processo da adaptação do paciente internado, ajudando os profissionais da saúde a lidarem com o paciente e promovendo segurança e tranquilidade no trabalho executado.

Ainda sobre o mesmo autor, o psicólogo hospitalar deve estar atento às reações manifestadas pelo paciente frente ao diagnostico recebido de sua doença, trabalhando, principalmente, a vida psíquica e a vida social. Sendo assim, o foco principal do psicólogo hospitalar é atuar diretamente no “pensar positivo” em relação às consequências que a descoberta da patologia pode trazer ao indivíduo e à família do mesmo.

Gorayeb (2011, p. 277) relata sobre a importância do profissional da saúde junto a pacientes em qualquer área do hospital, onde destaca a importância do “adequado relacionamento dos profissionais com o paciente”.

Primeiramente, a importância de uma boa intervenção no contexto hospitalar é essencial, pois não envolve apenas o emocional do paciente enfermo, e mas também de familiares e da equipe técnica multidisciplinar. Sendo assim, o psicólogo precisa estar sempre atento às técnicas utilizadas e trabalhar corretamente, focando na saúde e bem estar emocional desses indivíduos.

Vieira (2012, p. 5):

A psicologia no contexto hospitalar atua para a melhor integração, e compreensão das diferentes práticas teóricas, minimiza os espaços entre as diversidades dos saberes, e lapida o cuidado à saúde e à prevenção de doenças. Assim é possível estabelecer as condições adequadas de atendimento aos pacientes, familiares e melhor desempenho das equipes de saúde no hospital.

finalizar, Gorayeb (2011, p. 277), relata sobre a importância da atuação adequada em todas as áreas que o psicólogo possa atuar, inclusive a hospitalar, buscando manter-se atualizado. “Para construir uma profissão de respeito junto aos outros profissionais e aos próprios pacientes precisamos, enquanto classe profissional, solucionar problemas, criar modelos, produzir melhorias de qualidade de vida”.

2.3. Crianças no Ambiente Hospitalar

No desenvolvimento deste sub-item encontra-se como objetivo, apresentar os principais desafios que a criança hospitalizada enfrenta, assim como outros aspectos decorrentes do contexto hospitalar. Portanto, no primeiro momento, se faz necessária a compreensão do conceito criança, pois assim, tornará mais claro o entendimento do mesmo.

O que é ser criança? A palavra criança tem um significado forte, no sentido ingênuo, doce e delicado, uma fase marcante na vida das pessoas, uma fase onde a busca do conhecimento e aventura está sempre presente. Mas, o que aconteceria se uma criança ficasse doente? Uma criança fica doente? Não se imagina que uma criança possa ter patologias até se deparar com essa realidade. A hospitalização na infância é algo difícil de se assimilar, mesmo para a equipe de saúde e familiares, até mesmo para a criança, tendo em vista que esta fase congrega expectativas de bem-estar, alegria, exploração e liberdade. (ALTAMIRA, 2010 apud. MESQUITA et al, 2013)

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) criado em 13 de julho de 1990, “é de referência mundial como legislação destinada a proteger a juventude”. Estas leis foram criadas para proteção integral desses indivíduos e foi aprovada pela Assembleia Geral da ONU em 20 de novembro de 1989. (ECA, 1990)

Nos termos do Artigo 2° da Lei 8.069/90, no capítulo I, diz que “Considera-se criança, para os efeitos desta lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade”. (ECA, 1990)

Quando se fala na atuação do psicólogo dentro do ambiente hospitalar, deve-se considerar aspectos como cautela, capacidade de observação e qualificação do profissional, pois com o paciente hospitalizado encontra-se também a família do mesmo e com isso, anseios, medos e perguntas surgirão por tanto, o psicólogo precisa estar preparado para os procedimentos voltados ao público. Características necessárias principalmente junto ao público infantil, já que a criança encontra-se em ambiente diferente o que pode gerar muitas perguntas e reações frente ao contexto hospitalar, dificultando o trabalho da equipe multidisciplinar técnica e até mesmo do psicólogo hospitalar e dificultando o processo de recuperação da patologia apresentada.

criança parte de uma fase de exploração do mundo, onde tudo é novo e motivo de alegria, e, de repente, se depara com a hospitalização, onde passa por diversos desafios, que até então eram desconhecidos por ela, podendo estes influenciar diretamente no seu desenvolvimento e até no tratamento da patologia. Para uma criança lidar emocionalmente com o contexto hospitalar, é questionar algo novo e desconhecido pois se encontra longe do seu “ambiente lar”, dos pais, dos objetos de estimação, enfrentando uma tensão emocional forte e desconhecida. Surge então o medo de ser abandonada, o medo de morrer, o contato com o ambiente hostil do hospital e inúmeras outras experiências, que não sendo bem direcionadas, repercutirão de forma negativa na sua experiência de hospitalização. (ALTAMIRA, 2010 apud. MESQUITA et al, 2013).

Mesquita et al (2013) no procedimento com criança o psicólogo precisa ser concreto, porém é necessário que haja um prévio conhecimento de como essa criança elabora os acontecimentos nesse novo ambiente que é o hospital. Evitando desta forma fatores que desencadeiem reações negativas, como por exemplo, a prolongação da internação pela não aceitação do tratamento estabelecido, em que paciente e a própria família do mesmo acaba atribuindo um valor simbólico não previsto pela equipe médica.

que esses imprevistos não aconteçam, Mota et al (2006, p. 328 apud. MESQUITA et al, 2013) afirmam que o Psicólogo Hospitalar, tende de lidar com os sentimentos “pois o indivíduo, ao sair do contexto familiar, passa a assumir a condição de paciente, perdendo sua autonomia e independência”.

Mesquita et al (2013) refere-se aos atendimentos psicológicos com crianças, dentro do contexto hospitalar, com o objetivo principal de “promoção do bem estar biopsicossocial”. Atualmente tal termo foi ampliado para: “biopsicossocioespirituambiental”, tanto dos pacientes, quanto para os familiares dos mesmo, e para isso deve-se trabalhar de forma integrada com os demais profissionais de saúde, num enfoque interdisciplinar.

atuação junto à hospitalização infantil, tem como objetivo minimizar o sofrimento das crianças, dentro do contexto hospitalar, oferecendo um ambiente menos hostil, “independentemente do tempo e da doença que as levaram à internação”. (ALTAMIRA, 2010 apud. MESQUITA et al, 2013, p. 94)

criança se encontra desenvolvendo-se seu repertorio de experiências e se deparando com a situação da “hospitalização” encontra-se incapaz de realizar tarefas que antes eram fáceis e divertidas. Por isso, o paciente, em especial a criança, precisa de apoio para enfrentar possíveis efeitos negativos relacionados à eventos traumáticos, ao sentimento de insegurança, medo intenso, a falta de ajuda e da ansiedade decorrentes da hospitalização e todos esses sentimentos, muitas vezes, a criança não consegue entende-lo, por nunca ter vivenciados tais momentos.

Quando a internalização está voltada a criança, a presença dos familiares, inclusive dos pais, é importante para a criança, não só para seu bem-estar mas para sua saúde ter um processo de cura mais rápido. No Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8069/90, no capítulo I, Artigo 12, diz que se "garante o direito de acompanhamento familiar em tempo integral à criança /adolescente internado". (ECA, 1990).

Esta lei teve início graças a campanha “Mãe Participante” divulgada pela Sociedade de Pediatria de São Paulo, em 1988, que segundo Lima (2004 apud. ALTAMIRA, 2010) “O programa conseguiu comprovar que a presença da mãe diminuía a mortalidade e também a estadia da criança no hospital”.

Segundo Chiatone (2003 apud. Altamira, 2010, p. 10):

As crianças privadas dos cuidados maternos sofrerão fracassos no desenvolvimento de sua personalidade na medida em que é a mãe, nos primeiros anos de vida, quem lhes proporcionará os dados essenciais para esse desenvolvimento. A privação materna durante a hospitalização traz à criança muita angústia, uma exagerada necessidade de amor, sentimento de vingança e, consequentemente, culpa e depressão. Todas as crianças estão sujeitas aos efeitos físicos, intelectuais, emocionais e sociais da privação materna, sendo esses já bem discerníveis desde as primeiras semanas de vida.

Visto isso, pode-se perceber que a o hospitalização não é um ambiente comum para crianças, por isso, precisa de todo um processo de adaptação, fazendo com que enfrentam adequadamente esses meio negativos, para que o processo medico tenham bons resultados, portanto, os psicólogos tem que estar sempre atentos aos cuidados, e principalmente e não mais importante, aos cuidados recebidos dentro dos hospitais, uma vez que tratado os pacientes de forma invasiva e abusiva, podem prejudicar qualquer tratamento e até traumatizar esses pacientes, em especiais, as crianças. “A forma como alguns procedimentos são realizados destacam ainda mais essa invasão e abuso dentro do contexto hospitalar, pois tudo é visto dessa forma pelo paciente devido à necessidade de aceitação que tem da condição em que se encontra”. (CAMON, 2006 apud. ALTAMIRA, 2010, p.9)

Dentro do contexto hospitalar, o psicólogo tende a desenvolver técnicas de atendimento, com o objetivo de trazer a criança para o tratamento de uma forma lúdica, para isso brinquedotecas, desenhos, livros entre outros meios, são recursos tranquilizantes que não apenas minimizam o sofrimento, mas que ajudam no processo de recuperação da doença.

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3. JUSTIFICATIVA

3.1. JUSTIFICATIVA PESSOAL

Este tema despertou curiosidade na pesquisadora ao iniciar estagio em 2012 em uma escola municipal de ensino básico em São Joao da Boa Vista, ao qual a pesquisadora teve contado com crianças de 6 à 11 anos de idade, sendo intensificado posteriormente por conta de uma disciplina do curso e de um estágio realizado em um hospital público.

3.2. JUSTIFICATIVA SOCIAL

Este estudo possui relevância social considerando o número de atendimentos infantis realizados em Hospitais Gerais. Para comprovar tal afirmativa, foram coletados dados referentes ao número de internação infantil realizado no ano de 2016, até o dia 26 de outubro, em um Hospital Geral da região. Os quadros apresentados a seguir, justifica a necessidade da temática apresentada.

Quadro 1 – O quadro abaixo apresenta o número de internação de crianças de ambos os sexos, no ano de 2016 relacionados à idade:

DESCRIÇÃO POR IDADE

NUMERO DE INTERNAÇÃO

0-0 anos

132

1-1 anos

37

2-2 anos

33

3-3 anos

28

4-4 anos

23

5-5 anos

19

6-6 anos

15

7-7 anos

26

8-8 anos

16

9-9 anos

13

10-10 anos

11

11-11 anos

23

12-12 anos

15

TOTAL

391

Quadro 2 – O quadro abaixo apresenta dados de crianças hospitalizadas no ano de 2016, categorizada por sexo e independente de idade:

DESCRIÇÃO

NÚMERO DE INTERNAÇÃO

Feminino

165

Masculino

226

TOTAL

391

Quadro 3 – O quadro abaixo apresenta dados de crianças hospitalizadas no ano de 2016 por categoria de convênio:

DESCRIÇÃO

NÚMERO DE INTERNAÇÃO

Convenio

156

Particular

1

SUS

234

TOTAL

391

3.3. JUSTIFICATIVA ACADÊMICA

Este estudo possui relevância cientifica, pelo fato de reunir artigos e pesquisas recentes sobre o tema proposto, fornecendo subsídios para futuras pesquisas na área.

4. OBJETIVOS

4.1. OBJETIVO GERAL

Realizar uma Revisão Bibliográfica em publicações dos últimos quinze anos, a fim de identificar artigos sobre medo e fantasias de crianças hospitalizadas nas seguintes bases de dados: Index Psi, Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e Google Acadêmico

4.2. OBJETIVOS ESPECIFICOS

  • Levantar os principais motivos apresentados nos artigos estudados sobre os medos e fantasias das crianças hospitalizadas;

  • Identificar nos artigos estudados as estratégias utilizadas para minimização dos medos e fantasias de crianças hospitalizadas.

5. MÉTODO

Trata-se de uma Revisão Bibliográfica, conhecida também como Revisão de Literatura, processo no qual o pesquisador tem “uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente”, pois realiza uma atividade de aproximações sucessivas da realidade, sendo que esta apresenta “uma carga histórica” e reflete posições frente à realidade (MINAYO, 1994, p.23 apud. LIMA & MIOTO, 2007, p. 38). Este procedimento é uma forma de esclarecer dúvidas e apresentar o “estado da arte” do assunto abordado, caminhando e construindo um processo de pesquisa, um tipo de investigação completa, buscando identificar evidencias.

Certamente, este procedimento tem rigor científico na maneira de definir seus procedimentos, que exigem do pesquisador clareza na definição do método a ser utilizado. “Um dos procedimentos mais visados pelos investigadores na atualidade, que pode ter sua escolha definida sem o devido cuidado com o objeto de estudo que é proposto, é a pesquisa bibliográfica”. (LIMA & MIOTO, 2007, p. 38).

No presente trabalho, foi realizada uma busca nas bases de dados Index Psi, Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e Google Acadêmico, para realização de uma Revisão Bibliográfica da literatura nacional dos últimos quinze anos. Foram selecionados os artigos que abordavam os medos e fantasias de crianças que enfrentam a hospitalização e as implicações no processo de cura. As palavras chaves utilizadas foram: Crianças, hospital, medos, fantasias, adoecimento.

É apresentado à seguir o Referencial Teórico sobre o conteúdo abordado nos artigos estudados.

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O presente trabalho, procurou levantar dados atuais de medos e fantasias de crianças hospitalizadas com idade entre sete e nove anos. Foram pesquisados artigos nos seguintes bancos de dados: Index Psi, Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e Google Acadêmico. No quadro abaixo, mostra o número de artigos encontrados com o tema relacionado independente do período de publicação:

Quadro 4 - Produção de artigos encontrados com o tema relacionado independente do período de publicação, utilizando palavras combinadas:

BASE DE DADOS

TEMAS RELACIONADOS

 

Psicologia - Hospital - Geral

Intervenção - Psicológica - Hospital - Geral

Crianças -Ambiente - Hospitalar

O Brincar - Contexto - Hospitalar

Medos - Fantasias

Medo - Morte

INDEX PSI

10

3

2

5

23

51

SCIELO

50

29

33

15

88

15

GOOGLE ACADÊMICO

16.300

46.100

54.900

14.900

24.100

97.800

Com base no quadro 4 apresentado, foram encontrados mais artigos relacionados, com a utilização de palavra combinada, na base de dados Google Acadêmico do que nas outras bases de dados Scielo ou Index Psi. No entanto, para a formulação do estudo, foram utilizados apenas alguns artigos que se encaixavam nos critérios de inclusão necessários para o proposto trabalho, pois o restante dos artigos houve dispersão do assunto.

Quadro 5 - O quadro abaixo, encontra-se a média de artigos relacionados ao tema proposto no presente trabalho encontrado nas bases de dados, independente do período de publicação:

BASE DE DADOS

TEMAS RELACIONADOS

 

Psicologia - Hospital - Geral

Intervenção - Psicológica - Hospital - Geral

Crianças -Ambiente - Hospitalar

O Brincar - Contexto - Hospitalar

Medos - Fantasias

Medo - Morte

INDEX PSI

10

3

2

5

23

51

SCIELO

50

29

33

15

88

15

GOOGLE ACADÊMICO

16.300

46.100

54.900

14.900

24.100

97.800

SOMA

16.360

46.132

54.935

14.920

24.211

97.866

MEDIA

5,45

15,37

18,31

4,97

8,07

32,622

No presente trabalho, foram abordados em total de vinte e um artigos que atenderam aos critérios adotados pelo estudo relacionados ao tema. A base de dados que mais forneceu conteúdo foi o Google Acadêmico com cerca de dezoito artigos, em segundo a base de dados Scielo com dois artigos e em terceiro a Index Psi com um artigo relacionados ao tema.

Quadro 6 - Observa-se a quantidade de artigos abordados no presente estudo que atenderam aos critérios relacionados ao tema, junto à suas bases de dados independentes do período de publicação:

BASE DE DADOS

TEMAS RELACIONADOS

 

Psicologia - Hospital - Geral

Intervenção - Psicológica - Hospital – Geral

Crianças -Ambiente - Hospitalar

O Brincar - Contexto - Hospitalar

Medos – Fantasias

Medo - Morte

INDEX PSI

0

0

1

0

0

0

SCIELO

0

1

0

0

1

0

GOOGLE ACADÊMICO

4

2

3

5

2

2

Com base nos artigos pesquisados, conclui-se que a criança hospitalizada vivencia experiências potencialmente traumáticas, que segundo Souza (et al, 2012, p. 354) suscitam “sentimento de culpa, punição e medo da morte” pois encontra-se em confronto com a dor, a limitação física, numa atitude de passividade, ao mesmo tempo em que é afastada do ambiente familiar. O mesmo autor afirma que a criança hospitalizada pode manifestar prejuízos que permanecem mesmo após a alta hospitalar. Em decorrência de seu pensamento fantasioso e egocêntrico, a maioria das crianças apresenta dificuldades de entender as situações vivenciadas, “passando a crer que a doença e/ou hospitalização é uma punição por mau comportamento ou algum erro”. (SOUZA et al, 2012, p. 354)

atuação de profissionais da saúde na hospitalização infantil, tem sido importante com o objetivo de minimizar o sofrimento das crianças dentro do contexto hospitalar, proporcionando um ambiente mais agradável e menos hostil. Contudo, foi percebido que uma das alternativas de minimizar o sofrimento da criança no ambiente hospitalar é a possibilidade de brincar, que se destaca como sendo uma das atividades mais importantes da vida infantil, gerando alegria, prazer e de certa forma conhecimento, além de ser uma forma de se comunicar com o mundo e com o meio onde vive. Francischinelli (et al, 2012, p. 19) relata que as crianças expressam “não só seus sentimentos de amor, mas também suas ansiedades e frustrações, bem como as críticas ao meio e às relações familiares, conquistando o desenvolvimento harmonioso de sua personalidade”.

6.1. Medos e Fantasias

O hospital é um ambiente desconhecido para o universo da criança, restrito de possibilidades de atividades como “o brincar, sendo um lugar muitas vezes de solidão, tristeza, saudade de casa, dos familiares, amigos e colegas”. Os familiares passam por momentos de angustia, assim como a criança, despertando, muitas vezes, outros sentimentos como de culpa e de perda. Dentro dos hospitais, o trabalho interdisciplinar com a criança e sua família torna o atendimento integrado e humanizado, auxiliando no processo de melhora do paciente (LIMA, 2007).

Os profissionais da saúde devem estar atentos à criança, na tentativa de minimizar o sofrimento físico e emocional gerados pela internação. A criança expressa-se seus sentimentos de medo da perda ou afastamento dos pais, de ficar sozinha, de não voltar para casa, de não ter mais os seus brinquedos e amigos, o que é angustiante para a criança e muitas vezes dificultador do processo de cura. Nesse sentido, Calvett (2008) relata que todos os procedimentos que serão realizados, devem ser explicados para a criança na tentativa de atenuar seus medos e fantasias diante do ambiente desconhecido.

inda sobre o mesmo autor, propõe que a família seja auxiliada a trazer os objetos preferidos da criança, ajudando a manter o vínculo com seu lar dentro do contexto hospitalar, tornando o ambiente mais familiar e facilitador.

Ponto importante, enfatizado Altamira (2010) é a necessidade de um entendimento é a despersonalização do paciente no hospital, ou seja, “essa despersonalização pode potencializar o sofrimento e fazer dessa estadia no hospital uma fase da vida marcada por inúmeras consequências negativas”. Segundo Camon (2006 apud. ALTAMIRA, 2010, p. 11):

O paciente perde seu nome, deixando de ser ele passa a ser a patologia que o levou à internação ou o número de leito em que se encontra. O mesmo autor afirma que, a posição de hospitalizado será uma experiência única enquanto vivência. Além disso, suas rotinas e costumes se transformarão diante da hospitalização e da doença, se a doença for algo que o envolva apenas temporariamente haverá a possibilidade de uma nova reestruturação existencial quando do restabelecimento orgânico, fato que, ao contrário das doenças crônicas, implica necessariamente numa restauração vital.

6.2. O Medo da Morte?

hospitalização não é comum na vida de uma pessoa, nem mesmo de uma criança. A hospitalização é vista pela criança como ameaçadora, pois não é comum, se encontrar em ambiente desconhecido, tendo essa que conviver com pessoas estranhas, onde muitas vezes deixa de fazer coisas que fazia anteriormente. No hospital, a criança encontra-se com momentos de dor e sofrimento para os quais ela não estava preparada e desconhecia, “este fato faz com que ela tenha medo da situação em que se encontra”. No hospital existem exames e procedimentos, que utiliza-se de materiais e equipamentos que a criança desconhece, trazendo sentimentos de invasão, separação do seu mundo familiar, tendo, muitas vezes, medo do desconhecido. (GOMES et al, 2013, p. 769, 770)

morte se apresenta de forma misteriosa, não só do fim da vida, mas um fenômeno de outra realidade, “apresentando-se como um processo misterioso e ainda assustador ao ser humano, consequentemente as pessoas procuram não pensar na morte ou no seu significado” (PINTO, 2013, p. 2)

Sendo assim, o medo da morte é universal, embora Freud (2010 apud. PINTO, 2013, p. 12) tenha afirmado que “as crianças ignoram tal restrição; elas ameaçam despreocupadamente umas às outras com a ideia da morte”. Na explicação psicanalítica, Wahl (1959 apud. PINTO, 2013, p. 12) comenta que o “medo da morte está muitas vezes relacionado ao medo da castração, pois o medo da castração que surge após o período edipiano está relacionado com o medo da morte”. Já Kovács (1992 apud. PINTO, 2013) afirma que a morte na explicação psicanalítica é controversa, pois existiria representação da morte no inconsciente. “Isso não existiria, por ser uma experiência que nunca tinha sido vivida. Mas ele considerava como equivalentes os terrores da castração, da perda do amor, do objeto” (KOVÁCS, 2008, apud. PINTO, 2013, p. 12)

Gomes et al. (2013) afirmam que no hospital, as crianças precisam enfrentar diversos sentimentos ainda desconhecidos, como a dor, o mal-estar, o desconforto e conviver com rotinas e regras impostas pelo hospital. Sendo assim, o ambiente hospitalar é causador de impacto em seu comportamento, levando à ter reações estressantes, de instabilidade, insegurança e de medo.

A criança hospitalizada vive experiências desconhecidas gerando sofrimento e medo do desconhecido, o que aumenta a fantasia. Gomes et al. (2013, p. 768) revela alguns cuidados minimizar tais sentimentos vivenciados pela criança nesse momento, uma delas é o “conhecimento de todos os elementos relacionados à internação, como medicações, procedimentos, rotinas e restrições, podendo, assim, lidar melhor com essas situações”.

6.3. O Brincar no contexto Hospitalar

Criança vive em uma fase exploratória, onde o Brincar é a atividade mais importante de sua vida, gerando alegria, prazer e de certa forma conhecimento, esta é uma forma de se comunicar com o mundo e com o meio onde vive. Francischinelli, et al (2012, p. 19) relata que a as crianças expressam “não só seus sentimentos de amor, mas também suas ansiedades e frustrações, bem como as críticas ao meio e às relações familiares, conquistando o desenvolvimento harmonioso de sua personalidade”

O brincar é uma necessidade da criança que se faz presente em todos os estágios do desenvolvimento infantil, ao qual, tem sua importância no processo do amadurecimento cognitivo e na socialização. Essas atividades lúdicas na infância são uma forma de entretenimento para o mundo da criança, distração e ocupação, além do desenvolvimento da criatividade e da autoconsciência do indivíduo. (FRANCISCHINELLI et al, 2012).

Ribeiro (1998 apud. FRANCISCHINELLI et al, 2012) ressalta sobre a importância do brinquedo na vida da criança com foco no tratamento terapêutico, por ajudar a criança a enfrentar situações de crise, como a hospitalização. Pois pode auxiliar no tratamento positivo do emocional da criança e no restabelecimento físico, auxiliando no enfrentamento do âmbito hospitalar, tornando-o menos traumatizante. Desta forma, a técnica lúdica de brincar no ambiente hospitalar, proporciona sua “função curativa, ao possibilitar que a criança elabore seus conflitos, aliviando sua ansiedade”. Ou seja, a criança se expressa por meio de brinquedos, ao qual, “já está habituada, uma forma natural de autoterapia”. (FRANCISCHINELLI et al, 2012, p. 19). Mello (2003, apud. FRANCISCHINELLI et al, 2012, p. 19) afirma que:

O uso de brincadeiras no hospital apresenta muitas vantagens, dentre elas, a capacidade de conduzir as crianças a uma experiência que as faça sentir-se vivas, mesmo em situação estressante, como quando doentes. Essa vivência propicia-lhes ganhos e perdas, crescimento e amadurecimento, sucessos e fracassos, mantendo a evolução de seu processo de desenvolvimento.

Souza et al (2012, p. 354) acredita que a hospitalização na vida da criança traz uma experiência potencialmente traumática, pois a criança se encontra em confronto com a dor, passividade e a limitação física, ao mesmo tempo em que é afastada do ambiente familiar o que a faz ter “sentimento de culpa, punição e medo da morte”. O processo de hospitalização, pode trazer à criança manifestações de insatisfação momentânea ou prejuízos que permanecem mesmo após a alta hospitalar. Em decorrência de seu pensamento fantasioso e egocêntrico, a maioria das crianças apresenta dificuldades de entender as situações vivenciadas, “passando a crer que a doença e/ou hospitalização é uma punição por mau comportamento ou algum erro”.

inda sobre o mesmo autor, afirma que a utilização do brinquedo terapêutico é muito importante para ajudar a criança a perceber o que está acontecendo, pois terá função de “liberar seus temores e ansiedades, permitindo que ela exponha o que sente e pensa”. (SOUZA et al, 2012, p. 354). Com o auxílio do brinquedo estruturado, ajudará no alivio da criança causada por experiências “não naturais” pela sua idade que podem ser ameaçadoras, como a ansiedade.

Souza et al. (2012, p. 354) apresentaram em suas pesquisas, três formas de brinquedo terapêutico, desde que a criança se sinta “a vontade” promovendo bem estar psicofisiologico. São elas: o Brinquedo Dramático, que permite a descarga emocional; o Brinquedo Instrucional, que ajuda a criança na compreensão do tratamento e no esclarecimento de conceitos errôneos e o Brinquedo Capacitador de funções fisiológicas, o qual busca desenvolvimento de atividades em que as crianças possam, de acordo com suas necessidades, melhorar ou manter suas condições físicas.

O brinquedo contribui para o desenvolvimento global, envolvendo atividades, como a dramatização de papéis, permite o diagnóstico do conflito pelo qual a criança está passando, configurando, então, sua função curativa, funciona como “válvula de escape” e conduz à diminuição da ansiedade pela catarse emocional. (SOUZA et al, 2012, p. 355)

Nessa perspectiva, o brincar é uma possibilidade da criança expressar seus sentimentos, receios e hábitos; colocando o mundo onde vive tanto familiar quanto as situações novas ou ameaçadoras assim como a elaboração de experiências desagradáveis ou desconhecidas. Sendo assim, o brincar se torna terapêutico capaz de promover o desenvolvimento infantil e, o mais importante, a capacidade de entender melhor esse momento específico que vive, a hospitalização.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ser humano de modo geral, não está preparado para lidar com a morte nem com o morrer. Quando se depara com a doença ou até mesmo a internação, o indivíduo sente-se aflito, sem saída, com pensamentos fantasiosos de passado e futuro, pensando em tudo o que não fez e tudo o que ainda há para fazer. A morte é incerta, misteriosa e assustadora, é a única certeza que o ser humano tem e que é veementemente negada.

O presente trabalho, possibilitou conhecer o que se produziu de conhecimento científico nos últimos 15 anos sobre os medos e as fantasias de crianças que enfrentam hospitais, sejam por doenças mais graves ou mais leves.

hospitalização na infância é, sem dúvida, mesmo para profissionais da área da Saúde, algo de difícil assimilação, haja vista que esta fase do desenvolvimento humano congrega expectativas de bem-estar, alegria e liberdade. Com a hospitalização, a criança é retirada de seu ambiente familiar, o que ocasiona uma série de mudanças no ritmo de sua vida. O conhecimento dos elementos relacionados à internação, como medicações, procedimentos, rotinas e restrições, podem auxiliar a criança a lidar melhor com as situações provocadas pela hospitalização, que desta forma, se torna mais familiar.

As principais fantasias infantis identificadas nos artigos encontrados estão relacionadas ao medo da morte, ao afastamento da família, aos procedimentos utilizados durante a hospitalização e o próprio ambiente hospitalar, incluindo a relação que estabelece com os profissionais que atuam com o paciente infantil.

Sabe-se que uma das formas de expressão mais genuínas da criança é o brincar, porque é por intermédio desta atividade que a mesma expressa sentimentos e emoções e é o que deve ser utilizado durante a internação da criança, com a possibilidade da instalação de brinquedoteca no hospital. importância do brinquedo na vida da criança com foco no tratamento terapêutico, ajuda no enfrentamento de situações de crise, como a hospitalização, contribuindo no aspecto emocional e no restabelecimento físico, auxiliando no enfrentamento do âmbito hospitalar, tornando-o menos traumatizante. A técnica lúdica de brincar no ambiente hospitalar tem importante função curativa, ao possibilitar que a criança elabore seus conflitos diminuindo sua ansiedade. utilização de brincadeiras no hospital apresenta inúmeras vantagens tais como a de proporcionar às crianças uma experiência que as faça sentir-se vivas, Desta maneira, possibilita-se à criança que mantenha a evolução de seu processo de desenvolvimento.

Acredita-se que o conhecimento resultante desta pesquisa forneça subsídios para o campo de atuação do Psicólogo Hospitalar e da equipe de profissionais da saúde, auxiliando a equipe médica e a família na compreensão de possível sucesso ou fracasso do tratamento.

Sugerem-se novas pesquisas na área da psicologia hospitalar com ênfase na hospitalização infantil para que se possa minimizar sofrimentos no processo de adoecer, bem como possibilitar uma maior adesão da criança ao tratamento proposto, favorecendo o reestabelecimento, diminuindo o tempo de hospitalização e consequentes sequelas.

8. REFERÊNCIAS

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LMEIDA, R. A. & MALAGRIS, L. E. N. Psicólogo da Saúde no Hospital Geral: um Estudo sobre a Atividade e a Formação do Psicólogo Hospitalar no Brasil. Psicol. cienc. prof. [online]. 2015, vol.35, n.3, pp.754-767. ISSN 1414-9893

LTAMIRA, L. L. A Criança Hospitalizada: Um Estudo Sobre a Atuação do Psicólogo Hospitalar. Monografia apresentada ao curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, PUC-MG, pp. 1-33. Arcos-MG, 2010.

NGERAMI-CAMON, V. A. Psicologia da saúde: um novo significado para a prática clínica. São Paulo, SP: Pioneira. 2002.

CALVETT, P. Ü. & SILVA, L. M. & GAUER, G. J. C. Psicologia da saúde e criança hospitalizada. Psic [online]. 2008, vol.9, n.2, pp. 229-234. ISSN 1676-7314.

CASTRO, E. K. & BORNHOLDT, E. Psicologia da saúde x psicologia hospitalar: definições e possibilidades de inserção profissional. Psicol. cienc. prof. [online]. 2004, vol.24, n.3, pp. 48-57. ISSN 1414-9893.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA – CFP. Resolução CFP 013/2007, Consolidação das Resoluções relativas ao Título Profissional de Especialista em Psicologia.

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Brasília, 1990. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm

FERRARI, S. BENUTE, G. R. G.; SANTOS, N. O.  & LUCIA, M. C. S. Excelência do atendimento em saúde: a construção de indicadores assistenciais em psicologia hospitalar. Psicol. hosp. (São Paulo) [online]. 2013, vol.11, n.2, pp. 60-71. ISSN 1677-7409.

FOSSI, L. B. & GUARESCHI, N. M. F. A psicologia hospitalar e as equipes multidisciplinares. Rev. SBPH, Rio de Janeiro. v. 7, n. 1, p. 29-43, jun.  2004

FRANCISCHINELLI, A. G. B. & ALMEIDA, F. A. A, & FERNANDES, D. M. S. O. Uso rotineiro do brinquedo terapêutico na assistência a crianças hospitalizadas: percepção dos enfermeiros. Acta Paul Enferm. ;25(1):18-23. 2012

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GORAYEB, Ricardo. A prática da psicologia hospitalar. Psicologia Clínica e da Saúde – Organização: Maria Luiza Marinho e Vicente E. Caballo – UEL – Granada: APICSA - p. 263-278, 2001

LIMA, T. C. S & MIOTO, R. C. T. Procedimentos metodológicos na construção do conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Rev. Katál. Florianópolis v. 10 n. esp. p. 37-45, 2007

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PINTO, L. F. A Representação da Morte: Desde o Medo dos Povos Primitivos até a Negação na Atualidade. Graduada em Psicologia pela Faculdade de Ciências Humanas, v. 7, n. 1. 2013

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SOUZA, L. P. S. & SILVA, C. C. & BRITO, J. C. A. & SANTOS, A. P. O. & FONSECA, D. G. A. & LOPES, J. R. & SILVA, C. S. O. & SOUZA, A. A. M. O Brinquedo Terapêutico e o lúdico na visão da equipe de enfermagem. J Health Sci Inst. 2012;30(4):354-8


Imagem de HK Kim no pixabay



O PENSAMENTO SISTÊMICO EM PSICOLOGIA

O PENSAMENTO SISTÊMICO EM PSICOLOGIA

por Abilio Machado 





INTRODUÇÃO




Ser Sistêmico...



Quando aprendemos a pensar sistematicamente, já temos o resultado de um processo que envolve liberdade, escolhas, ética, ecologia, amor e paz.

Pensar sistematicamente é contar uma nova narrativa sobre nós mesmos. “Pensar sistematicamente é desenvolver uma atitude ética baseada no amor.

Telma P Lenzi




RESUMO




No final do século XIX, a família brasileira recebeu grande influência da família



burguesa européia da qual era remanescente do capitalismo e das relações sociais vigentes na época. Destacava-se na classe média urbano o modelo de família ideal, com o homem provedor da casa e a mulher responsável pelos filhos, excluindo-a da produção.

Em meados da década de 1950, surgiu o movimento de atendimento conjunto à família, sendo esta considerada e pensada como uma unidade. Foi por volta dos anos 60, nos Estados Unidos, que este modelo de terapia familiar teve início. Levando assim, a Psicologia a utilizar o pensamento sistêmico, que advém da física quântica nas suas ultimas forças da Psicologia Humanista e Psicologia Transpessoal.

Pensamento sistêmico, refere-se a uma nova visão de mundo que enfatiza o interesse pelas relações. Como ciência a Psicologia estuda o comportamento humano e este inserido numa grande rede relacional. O individuo nasce faz parte de sua família primária, que educa, influência, transmite crenças e valores, etc., logo a escola vai fazer parte de outra relação que é a escola onde sofre influência de grupos de amigos, lazer, grupos religiosos, o que amplia sua rede de relações. Envolvido o indivíduo neste meio de alguma forma será influenciado para estruturar sua personalidade. Dependerá das relações onde o indivíduo está inserido o comportamento do mesmo.

Diante dessas afirmações o pensamento sistêmico é um novo paradigma da ciência, uma idéia que já vinha sendo cogitada e trás implicações revolucionárias e profundas no âmbito científico e também repercute no âmbito pessoal.



Neste novo paradigma o universo então, é visto como uma teia dinâmica de eventos inter- relacionados com um objetivo comum. A concepção sistêmica vê o mundo em termos de relações e integração. Os sistemas são totalidades interligadas, cujas propriedades não podem ser reproduzidas a unidades menores.

Outra característica desse pensamento é o princípio do diálogo que articula e une conceitos focaliza possíveis relações entre disciplinas e efetiva contribuições entre elas o qual é denominado de interdisciplinaridade. Para embasar o pensamento sistêmico, deve-se fazer uma retrospectiva histórica.

Os primeiros estudos da psicologia remontam a Grécia em torno de 500 anos a.C. através de Sócrates, Platão e Aristóteles. Esses filósofos enfatizaram a racionalidade do homem e a imortalidade da alma. Na idade média a psicologia foi evidenciada através de Santo Agostinho e São Tomas de Aquino. Porém foi no renascimento, através de Descartes que foi enfatizado o conceito de dualidade do corpo e mente que favoreceu o nascimento da psicofisiologia, no século XIX. O que veio a influenciar a visão do homem dando enfoque mecanicista na ciência através de uma metodologia determinista com pretensões explicativas, o que gera o método analítico.

No período de 1832 a 1860 na Alemanha a psicologia se desvincula da filosofia e se torna uma ciência tendo como objeto de estudo o comportamento, a vida psíquica e a consciência.

Durante o século XX, a psicologia havia adquirido varias escolas com linha de pensamento controversas, como o estruturalismo, o funcionalismo, o behaviorismo, a psicanálise e a psicologia humanista.

Para podermos discutir a forma com que estas escolas viam o homem, é necessário voltar ao discurso analítico de Rene Descartes, que influenciou todas as ditas ciências modernas, colocando como importante aquilo que poderia ser provado e visto, e descartando os conteúdos que não eram possíveis de ser experimentados e reproduzidos.

Dentro disto tínhamos a escola behaviorista, que via o homem formado por estímulos que eliciavam respostas, moldando o ser dentro destas relações, e a psicanálise, onde eram analisados pensamentos de forma racional para todos os processos da psique. Estas duas linhas tinham visões diferentes do homem, mas ao serem analisadas apenas levavam em consideração um lado do homem, usando de uma visão fragmentada e, portanto insuficiente para a compreensão deste.



O homem é um ser biopsicosocial e espiritual, e a cisão sistêmica trás a importância desta visão como um todo. Não podemos analisar as situações que envolvem os indivíduos de uma sociedade sem entendermos como as situações psicológicas alem a parte biológica deste ser, como a sociedade em que ele vive influencia estas relações psicológicas, atribuindo valores e metas para o individuo, e como a espiritualidade dele ajuda na visão de mundo, alem de muitas outras relações.

A Teoria Sistêmica tem suas origens na física quântica, a partir da mudança na visão de mundo, onde passou-se da concepção linear-mecanicista de Descartes e Newton para uma visão holística e ecológica. O termo holístico, refere-se a uma compreensão da realidade em função de totalidades integradas, cujas propriedades não podem ser reduzidas a unidades menores.

A partir da nova ciência a família passa a ser considerada um sistema aberto, devido ao movimento dos seus membros dentro e fora e de uma interação uns com os outros e com sistemas extrafamiliares (meio-ambiente, comunidade, etc). As ações e comportamentos de um dos membros influenciam e simultaneamente são influenciados por comportamentos de todos os outros.

Para física quântica o universo é considerado um organismo que vive pulsando denominada respiração cósmica, semelhante ao corpo humano. O cosmo é um sistema em movimento, vivo orgânico, espiritual e material. A noção de espaço e tempo como também causa e efeito perde seu significado. A natureza humana é vista na sua totalidade, interdependentes, sistêmica em conexão com o cosmo.

Voltando a Psicologia o que verificamos que a inserção do pensamento sistêmico surge na terceira força denominada de Psicologia Humanista que enfatiza

a compreensão da existência humana, a busca do sentido de vida, o homem inserido numa teia de comunicações repleto de possibilidades. Enfatizando uma visão holística do ser humano. Daí surge à quarta força denominada de Psicologia Transpessoal, considerada um desdobramento da Psicologia Humanista tendo como principal preocupação às experiências dos indivíduos em outros níveis de consciência que transcendem o ego. Possuindo como embasamento toda a visão sistêmica que se origina da física quântica. Gerando então o método sintético.

O método sintético oriundo do pensamento sistêmico serviu com embasamento para a consolidação da quarta força em psicologia denominada Psicologia Transpessoal. Para os cientistas transpessoal o desenvolvimento espiritual vai fornecer novas opções de vida para o individuo, mas não despreza o caráter interativo do ser humano com o



seu ambiente. Apenas amplia essa visão para uma natureza macro que vai além do planeta, mas ao cosmo. A visão de homem é de um ser multidimensional formado pela mente, corpo, interação social e espiritual. Isso de uma maneira integrada, orgânica e total.




CONCLUSÃO




Dentro da ótica de uma terapia sistêmica encontram-se hipóteses que os seres humanos, no intercâmbio uns com os outros, realizam adaptações mútuas: exemplos, uma reunião entre amigos, faz convites para momentos retrospectivos, como lembrar tempo de infância, juventude.

O encontro terapêutico é um processo onde o passado deixa de ser um dado histórico para ser uma construção subjetiva, na qual é possível reescrever e reinventar repetidamente cada história, tornando possível a construção de vínculos mais saudáveis e satisfatórios com outras pessoas. A história de um olhar A metodologia da psicologia sistêmica não pode ser passada como uma receita, pois depende muito da habilidade do profissional de articular o grupo, levantar questões válidas e, sobretudo saber que cada sistema é único. Circunspecto por pessoas únicas. Isto traz a precisão de conhecer sempre coisas novas, novas possibilidades, novas idéias, o que torna importância para estreitamento terapêutico visando abrigar todo este método.

O deslocamento do foco de atenção do intrapsíquico para o relacional no campo das práticas terapêuticas com seu papel social. Conceitos com práticas, terapias de grupo e psicodrama se esquematizam nessa época. 

O PSICOLOGO E O AMIGO

 




por Abilio Machado


Na delicada dança das relações humanas, um verso inesperado ecoa: "Muitas vezes não se quer um psicólogo, e sim um amigo." Essa frase, proferida com a leveza da verdade, carrega consigo o peso das experiências compartilhadas, das lágrimas represadas e dos segredos murmurados na escuridão da alma.


De um lado do espectro emocional, paira a figura do psicólogo, um profissional treinado nas artes sutis da mente. Ele é o guia habilidoso que desvenda os labirintos do ser, que lança pontes sobre os abismos do desconhecido. Sua presença é um farol de clareza em meio à neblina das confusões internas. Com técnicas refinadas e uma escuta compassiva, ele oferece um espaço seguro para a expressão das dores mais profundas, para a exploração dos cantos mais sombrios da psique. Suas ferramentas são afiadas como bisturis, capazes de dissecar os traumas, as neuroses e os padrões autodestrutivos que assombram o indivíduo.


Do outro lado da moeda relacional, surge o amigo, esse ser de carne e osso, permeado pelo calor humano e pela empatia genuína. Ele não possui um diploma em psicologia pendurado na parede, mas carrega consigo o título honroso de confidente, de ombro amigo, de companheiro de jornada. Sua presença é um bálsamo reconfortante nos momentos de aflição, um eco de risadas nos dias de bonança. Ele não tem técnicas especializadas para desvendar os enigmas da mente, mas oferece seu coração aberto e sua escuta atenta como antídotos para a solidão e o desespero.


Entre esses dois polos, há uma diferença crucial que define suas respectivas contribuições no universo do cuidado emocional. O psicólogo, além de oferecer apoio emocional, possui um arsenal de conhecimentos teóricos e práticos para ajudar na compreensão e na resolução dos conflitos internos. Ele é treinado para identificar padrões disfuncionais, para sugerir estratégias de enfrentamento e para acompanhar o processo de transformação pessoal de forma profissional e ética.


Já o amigo, embora possa não ter as mesmas habilidades técnicas, oferece um tipo único de suporte: o amor incondicional e a camaradagem. Ele não está preocupado em diagnosticar ou em prescrever tratamentos, mas em simplesmente estar presente, em compartilhar risos e lágrimas, em caminhar ao lado do outro nos altos e baixos da vida.


Portanto, quando a angústia aperta o peito e a solidão se faz presente, a escolha entre um psicólogo e um amigo não precisa ser excludente. Ambos têm seu lugar sagrado no vasto espectro das relações humanas. Um oferece as ferramentas da ciência e da técnica, enquanto o outro empresta seu coração e sua alma. E no encontro harmonioso desses dois mundos, encontramos o verdadeiro alívio para as dores da existência: um abraço afetuoso e uma escuta cuidadosa, unidos em uma dança de cura e compaixão.


Acho que o texto consegue equilibrar bem os dois aspectos. Ele destaca a importância tanto do profissionalismo do psicólogo quanto da camaradagem do amigo. Embora haja uma ênfase na distinção entre as habilidades técnicas do psicólogo e o suporte emocional do amigo, ambos são retratados como essenciais e complementares no cuidado emocional das pessoas. O texto reconhece a necessidade de ferramentas específicas para lidar com questões psicológicas, ao mesmo tempo em que valoriza o apoio emocional e o vínculo interpessoal proporcionado pela amizade.


Abilio Machado 

Psicoarteterapeuta ICH

Psicanalista 

Neuropsicopedagogo ICH

Arteeducador Cênico e Plástico 

Especialista no ensino de Artes e na Docência em Filosofia e Teologia 






A Linguagem de Deus - Francis Collins (2007)

Exercício de resumo na formação de especialista em docência de filosofia e teologia...





Qual a línguagem de Deus?

Abilio Machado

Resumo

O livro de Collins pretende responder se é possível ou não a harmonia entre descobertas científicas e a existência de Deus. Ao avaliar essa questão, a Gênesis é questionada e, após análise teológica superficial, ele conclui que o relato inicial do primeiro livro da Bíblia é uma alegoria poética da criação. O capítulo sete é uma avaliação de duas posturas sobre a relação entre fé e ciência: ateísmo e agnosticismo.

No primeiro caso, o autor rebate as contradições levantadas por Richard Dawkins, professor de Oxford e autor de uma série de livros contra toda postura religiosa na sociedade moderna e na ciência. A resposta dada a Dawkins é que suas afirmações se baseiam no que as pessoas fazem da religião e não em sua essência propriamente dita: “É muito fácil para Dawkins atacar a caricatura da fé que ele nos apresenta, mas não se trata da fé real”.

Quanto ao agnosticismo, afirma o escritor: “Embora o agnosticismo seja uma posição cômoda para muitos, do ponto de vista intelectual ele transmite certa fragilidade. Será que iríamos respeitar alguém que insistisse em dizer que a idade do universo não pode ser conhecida nem parou para verificar as evidências?”. Mas, fingir que o problema não existe não significa resolvê-lo.

Nos capítulos oito e nove, Collins trata do criacionismo e do desígnio inteligente, mas não apoia nenhuma das duas posições. Sua objeção ao criacionismo prende-se à literalidade do Gênesis e sua falta de explicações para algumas evidências genéticas, apresentadas em seu livro, favoráveis à evolução. Diz ele: “Assim, de acordo com a lógica racional, o criacionismo da Terra Jovem chegou a um ponto de falência intelectual, tanto em sua ciência quanto em sua teologia. Sua insistência é, assim, um dos maiores enigmas e uma das maiores tragédias de nosso tempo. Ao atacar as bases de praticamente cada ramificação da ciência, ele amplia a ruptura entre as visões de mundo, científica e espiritual, justamente numa época em que se necessita desesperadamente de um caminho em direção à harmonia”.

A força de tal afirmação não condiz com a fraqueza dos argumentos, pois o melhor caminho para a harmonia não está em tornar o Gênesis uma representação poética já que, em termos de análise teológica completa, sua literalidade pode ser defendida. Explicar um fenômeno não implica falsidade de uma teoria, mas pode implicar compreensão incompleta. Há inúmeras situações para as quais a teoria da evolução não tem explicação completa, mas o cristianismo apresenta uma resposta cientificamente fundamentada. Exemplo disso é a explosão do Cambriano, que pode ser explicada por uma catástrofe global como o dilúvio bíblico.

Ao tratar do desígnio inteligente, sua atenção se concentra na ausência de previsões científicas dessa teoria e em “imperfeições” em determinados organismos humanos, como o dente siso, a coluna e o olho. Contudo, suas afirmações não explicam o processo ocorrido para atingir a formação de determinados organismos complexos, e ignora que vários órgãos considerados sem importância, as “imperfeições”, tiveram suas funções compreendidas.

No fim do livro, Collins propõe uma posição chamada por ele de “BioLogos”, na qual afirma a existência de Deus, mas Sua ação na criação e no desenvolvimento do universo ocorreu por meio de um processo lento, de bilhões de anos de auto-organização, com base na teoria do Big Bang e na teoria da evolução. Sua postura contrasta com a exigência de critérios e cientificidade apresentadas no livro, pois relega Deus a um papel secundário na criação.

Avaliação Crítica

Não se pode negar que Francis Collins seja um cientista de primeira linha. O fato de ter alcançado o posto de diretor do Projeto Genoma lhe deu muita visibilidade e certamente teve peso determinante nas vendagens de sua obra. Apesar disso, seu conceito de BioLogos não ganhou tanta aceitação e difusão como o Design Inteligente. Contudo, apesar de sua reputação como cientista, seus argumentos a favor da existência de Deus não vão muito além do que a teologia liberal havia colocado há mais de um século. Mas ele tem o mérito de não ser fundamentalista. Collins não quer usar a ciência para provar o Gênesis, reconhece a veridicidade e importância do evolucionismo como fundamento da ciência moderna, aceita os pressupostos do Big Bang, é arredio com relação a teorias pseudocientíficas como o Design Inteligente e não pretende transformar seu BioLogos em algo semelhante.

Contudo, não justifica sua afirmação de que o ateísmo é a menos racional das visões possíveis sobre o mundo e nesse ponto parece cair na mesma armadilha de qualquer cristão não cientista: o ateísmo tende a ser amoral, é perigoso e nega a “óbvia” existência de um criador. É redutivo e excessivamente sintético quando fala do agnosticismo, como se estivesse evitando escrever sobre as concepções pelas quais não têm empatia. No final, o que fica da leitura de sua obra é que ele sempre foi um homem profundamente religioso e, movido pela necessidade pessoal de encontrar um sentido para a existência fora das pesquisas de laboratório, fez um esforço hercúleo para conciliar seu teísmo com a ciência. Em toda a obra, apresenta basicamente duas evidências a favor da existência de Deus: a Lei Moral de C.S. Lewis e a crença espiritual presente em virtualmente todas as culturas. Para ele, essa é a linguagem de Deus, inscrita de forma sutil, mas indelével na genética humana, cujo mapeamento (genoma) ele ajudou a decifrar.

Sua tentativa de estabelecer um diálogo entre a religião e a ciência, em que a primeira não precisa invalidar a segunda quando se sente ameaçada por ela, é uma iniciativa elogiável. Collins pode não ter sido um ateu muito seguro na juventude, mas o fato de ter se afastado da religião por um tempo e escolhido uma carreira científica deixou marcas positivas. No fundo, seu Deus evolucionista também não deixa de ser um Deus de lacunas, e, como todos os deuses, foram criados por ele mesmo para suprir suas necessidades particulares. Collins é um religioso que atravessou muitos conflitos internos até escolher entre a fé o ceticismo, talvez por isso não se sinta bem em falar do ateísmo, mas precisou sufocar sua descrença para dar sentido à vivência de uma espiritualidade mística.

Aplicação Prática

Se houvesse apenas uma crença baseada em evidências, não existiriam as guerras religiosas, responsáveis pelas maiores atrocidades cometidas na historia da humanidade. Se todos pensassem da mesma forma, baseados em evidencias (o que seria ainda melhor, porque garantiria ao menos que esse pensamento estaria correto), não haveria discórdia. E um cientista dizendo que isso seria desinteressante é um argumento triste.

Acho engraçado dizer que Deus nos deu o livre arbítrio para acreditarmos no que quisermos, mas se não acreditarmos nele, então seremos punidos. Onde se aplica este livre arbítrio? E se Deus é o superior, sabe o quão “involuídos” espiritualmente nós somos e, por isso, olharia para nós com compreensão se decidíssemos não acreditar nele e não com sentimento de punição, mais uma vez, essencialmente humano.

Por todos esses motivos, não acredito no Deus, essencialmente humano, da bíblia, pois, as histórias lá contadas são fruto da imaginação ou da fraude de homens que precisavam de um argumento de poder para liderar, especialmente no velho testamento - não se pode simplesmente ignorar aquele Deus que agia como humano e dizer que no novo testamento, ele se redimiu e começou a pregar a bondade para com todos, além de seu povo. Se a bíblia fala de um Deus onipotente, então é nesse único soberano, essencialmente humano, em quem não acredito.

O que os cristãos não entendem é que não acreditar no Deus da bíblia, não me impede de acreditar, pois, posso acreditar na existência de um ser superior envolto de amor, que não seja o deus da bíblia. Seria um ser superior com uma genuína preocupação com um quase semelhante (em termos evolutivos) que eventualmente teria interesse em nos ajudar a passar por essa fase tão primitiva em que nos encontramos onde Ele já superou há muito tempo. Para mim esse seria o Deus mais lógico para qualquer cientista: uma criatura tão evoluída que para nós, pode ser designada como “Deus”, porém, que está de acordo com a ciência da evolução e com as observações empíricas que fazemos.

Porque não pode haver existência de algum tipo de vida após a morte, mas que continue evoluindo nos mesmos padrões que observamos no mundo físico? Se o bóson de higgs, descoberto recentemente, apresenta uma variante da teoria do surgimento do universo, indicando que ainda antes do big bang, houve uma outra fase de interação da matéria com o imaterial, porque o oposto não pode acontecer quando a nossa matéria morre e talvez ainda continue existindo algum tipo de matéria que nos caracterize? E que vai continuar seu caminho evolutivo ou não, da mesma forma que a matéria sem depender da interferência de um poder criador, mas de combinações de circunstâncias e eventos físicos (lembrando que a física teórica também se aplica à “imatéria”). Einstein já dizia que matéria e energia (imatéria) são intercambiáveis, então o que impede de descobrirmos que a matéria vira energia consciente após a morte?

Acho engraçado que quando se fala de Deus e religião, a fé não precisa ser provada e não pode ser questionada, mas quando a situação se inverte, os primeiros a exigirem provas são os exageradamente “crentes”. O autor diz que os milagres são raros, mas para quem acredita num Deus interventor, eles existem e para quem não acredita, eles podem ser explicados pelas leis da natureza e então o autor lança a pérola “pode, porém, esse ponto de vista ser totalmente confirmado?”, ou seja, se as leis da natureza não explicam tudo, só pode ser uma intervenção divina.

Mesmo que a ideia que você vai defender seja baseada em fé, os princípios dessa fé não podem se contradizer para ter sentido porque a questão é justamente que a lógica não pode ser afastada nem dos que alegam que a fé não precisa de provas, mesmo uma premissa que se afirme por si só (independente de provas) precisa seguir uma coerência lógica com o raciocínio que vier depois (seja qual for) e isso que muitos crentes não entendem embora o autor, em muitos trechos do livro tenha buscado essa coerência, rejeitando o criacionismo bíblico literal e outras teorias absurdas que tentam explicar a fé em deus interventor.

O autor ataca o ateísmo porque diz ser “uma posição logicamente indefensável”, mas quase defende o agnosticismo, por ser “compatível com a teoria da evolução e muitos biólogos se colocariam nesse campo”. Se o agnosticismo é compatível com a teoria da evolução, porque o cristianismo também seria? O problema é que ele se força a tomar uma posição frente os dados que temos hoje, o que pode levar a uma conclusão forçada por medo de ficar em cima do muro e vir a ser punido. Preciso discordar do seu comentário quando diz que “é raro ver um agnóstico que se empenhou em avaliar todas as evidências favoráveis e contrárias à existência de deus”.

Não acho justo encarar o agnosticismo como covardia. Se uma pessoa não considera suficientes nenhum dos argumentos apresentados, por que deve ser obrigada a escolher algum, ao invés de esperar pelo surgimento de outro melhor? A ciência e a própria filosofia humana progridem a cada dia e quem garante que no futuro não existirá uma explicação melhor e mais aceitável pra mim, do que as que existem hoje? Chamar agnosticismo de covardia é querer incutir na mente do outro as próprias convicções, típico da natureza do ser humano, mas inválido como argumento.

Enfim, a tentativa do Collins de harmonizar seu trabalho científico (de grande valor) à sua crença religiosa é falha, pois os maiores argumentos usados (lei moral do homem, universo vindo do nada e universo “certo” para o homem) já foram longamente refutados por vários pensadores. A verdade é que a crença no Deus da bíblia continua sendo uma escolha, que também não resiste a argumentos lógicos e comumente apela para a “fé cega”, que não precisa de provas. O que os crentes não entendem é que todo sistema de crenças (seja ele baseado em fé ou não) deve ter coerência em suas premissas, o que não acontece com a fé no deus da bíblia. Não é uma questão de impor a razão à fé, mas de pretender qualquer raciocínio lógico sobre as próprias premissas daquela fé. Os crentes têm dificuldade de entender isso, mas a verdade é que suas premissas são contraditórias por si mesmas independente da fé ser provada ou não.


Bibliografia

Collins, F. C. (2007). A Linguagem de Deus. Editora Gente.







Homem Não Chora – Mas E Se Der Vontade? - da Serie O Eu Psicanalista

 


Homem Não Chora – Mas E Se Der Vontade?

por Abilio Machado

Desde sempre, dizem que homem não chora. Mas quem foi que decidiu isso? Algum ancestral estoico, de sobrancelha franzida, que achou que lágrimas eram um sinal de fraqueza? Ou foi só um erro de comunicação que virou tradição?

A verdade é que, segundo a psicanálise, essa frase é um dos primeiros mandamentos da masculinidade imposta. Freud já dizia que reprimimos emoções para nos encaixar na sociedade, e nada é mais reprimido do que um homem segurando o choro no meio de um filme triste.

O menino cresce ouvindo que precisa ser forte, que não pode demonstrar fragilidade. Se cai da bicicleta, escuta um "levanta, engole o choro". Se perde no videogame, "não faz drama". Se o cachorro da infância morre, "seja forte". E assim, ele aprende que emoção é coisa de gente fraca.

Mas aí vem a adolescência, e com ela, a primeira desilusão amorosa. O coração partido, a playlist melancólica, o olhar perdido na chuva. E o que ele faz? Segura o choro. Porque homem não chora.

Na vida adulta, a pressão aumenta. Trabalho, contas, expectativas. O chefe grita, o trânsito infernal, o time perde a final. E ele segue firme, sem derramar uma lágrima. Mas o corpo não perdoa—vem a gastrite, a insônia, o estresse. Porque, segundo a psicanálise, o que não sai em lágrimas, sai em sintomas.

Até que um dia, sem aviso, ele se pega emocionado com um comercial de margarina. E aí, meu amigo, não tem volta. O choro vem, e vem forte. Porque a verdade é que homem chora sim—só que passou a vida inteira tentando esconder.

No fim das contas, talvez seja hora de atualizar essa frase. Que tal "Homem chora, e tudo bem"? Afinal, se até cebola faz chorar, por que um coração partido não poderia

sábado, 7 de junho de 2025

Relato do caso Joaquim (nome fictício)

 


Relato do caso Joaquim

“Era uma vez’ um jovem chamado Joaquim que tinha acabado de entrar em nova escola e estava começando a explorar sua sexualidade. Embora ele tivesse muitas perguntas sobre o assunto, ele sentia vergonha de falar sobre isso com seus amigos ou familiares. Em casa medo dos pais que buscavam sempre reafirmar a masculinidade, as palavras como homem não chora, seja macho guri, seja como seu pai, etc… A Igreja então, tinha medo de não o deixarem subir no altar dar seu testemunho e cantar no coral, disse: “Eu amo estes momentos de cantar, é onde me sinto realmente livre”. E na escola ele tinha acabado de conhecer Pedro com seus cabelos cacheados. Isso o estava abalando com falta de concentração e noies insones.

Ele foi empurrado a procurar ajuda profissional devido seus comportamentos pela orientação da escola num chamaento aos pais. E já nos primeiros passos apresentou suas queixas, queria entender melhor as emoções que estavam povoando seus pensamentos e sentimentos relacionados à sua sexualidade, principalmente porque não sabia o que era, usou palavras como não sei se sou viado, bicha, gay ou uma das letras que nascem a cada dia.



Joaquim foi atendido por um terapeuta especializado em psicologia da sexualidade, e outras, que lhe ensinou algumas coisas fundamentais sobre os aspectos biológicos, psicológicos e sociais do desenvolvimento da identidade sexual. Ele explicou como os fatores culturais influenciam nossas percepções sobre sexo, orientação sexual, gênero e expressão de gênero diferentes. Ele argumentou que a forma como nós interpretamos, expressamos e valorizamos o sexo está enraizada em nossas experiências passadas, e que muitas vezes esses fatores podem levar às inseguranças no presente.



Ele disse também que é importante entendermos como as expectativas sociais afetam a sexualidade de cada pessoa, pois elas desempenham um papel fundamental na formação da identidade individual. Por exemplo, os padrões culturais sobre o gênero são altamente influenciados por crenças religiosas e tradições familiares - algo totalmente fora do controle dessa pessoa individualmente. Nós precisamos ser compreensivos quando lidar com questões relacionadas à sexualidade para poder nos sentirmos confortáveis ​​com quem somos realmente.



Você também passa por isso? Que tal marcar um horário para conversar?

Estou a sua disposição.

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Abilio Machado

Psicoarteterapeuta – Psicanalista

Arteterapeuta Cênico e Plástico

Neuropsicopedagogo ICH

Docente em Artes, Filosofia e Teologia

análise precipitada

A professora chama os pais com urgência para a escola.Os pais Perguntaram ao filho o que havia acontecido , o filho responde que a professo...