Hoje ouvi uma resposta sobre determinado assunto que foi : Foi a culpa do vinho! Uma tentativa de justificar o erro ocorrido no dia anterior, e refleti sobre esta frase e resultou na seguinte história, espero que gostem....
Foi culpa do vinho de ontem a noite!
De Abilio Machado
O eco metálico da porta da cela se fechando trouxe Henrique de volta à realidade. A claridade incômoda da luz fluorescente destacava a sujeira das paredes de concreto. As vozes dos outros detentos, ora gritos, ora murmúrios, misturavam-se ao som das chaves tilintando no cinto do guarda. Henrique esfregou as têmporas, tentando afastar a dor latejante que parecia querer estourar sua cabeça.
"O que foi que aconteceu?" Ele se perguntou, enquanto tentava organizar os fragmentos de memória. Lembrava-se vagamente da noite anterior, do riso fácil dos amigos, do sabor doce e envolvente do vinho...
A noite havia começado como tantas outras. Henrique se reunira com seus amigos de longa data, Marcelo, Joana e Rafael, para uma celebração informal. Marcelo estava radiante, acabara de ser promovido no trabalho, e nada parecia mais apropriado do que abrir algumas garrafas de um vinho caro que guardava para ocasiões especiais.
— À promoção do Marcelo! — brindou Henrique, erguendo seu copo. O líquido rubro refletia a luz do abajur, lançando sombras dançantes pelas paredes da sala.
As risadas enchiam o ambiente, acompanhadas pelo tilintar das taças e pelas histórias compartilhadas de outros tempos. Henrique lembrava-se do calor do vinho, que fazia seu corpo relaxar e seus sentidos ficarem mais aguçados. Aos poucos, porém, as coisas começaram a se desviar do curso usual.
Joana, que sempre fora a mais ponderada do grupo, começou a falar de maneira mais exaltada. Henrique notou, com um certo espanto, como a conversa, antes descontraída, assumia um tom mais sombrio. Marcelo, que sempre fora o pacificador, agora parecia envolvido em uma discussão acalorada com Rafael. As palavras trocadas tornavam-se mais ásperas, e as risadas cediam lugar a sussurros tensos.
Henrique tentava se lembrar do que acontecera depois, mas sua memória era um borrão. Ele recordava de Joana saindo apressada, lágrimas nos olhos. Marcelo e Rafael discutiam na cozinha, as vozes se elevando cada vez mais. Então, tudo ficara escuro.
De volta à cela, Henrique sentiu um calafrio percorrer sua espinha. O que teria acontecido depois que ele apagou? E por que estava agora preso? Um guarda se aproximou, trazendo consigo um ar de desprezo e um envelope pardo.
— Tem uma ligação pra você, — disse ele, jogando o envelope sobre o pequeno banco de concreto da cela.
Henrique abriu o envelope com dedos trêmulos, revelando uma única folha de papel. Era uma citação para comparecer ao tribunal, acusação de homicídio. Seu coração disparou, e sua mente lutava para compreender. Ele havia matado alguém?
— Vamos, — o guarda impacientou-se, conduzindo-o à sala de telefonemas.
Do outro lado da linha, a voz trêmula de Joana o alcançou.
— Henrique... foi horrível... o Marcelo... ele está morto. — A voz dela era quase inaudível, sufocada pelo choro. — E todos acham que foi você.
O chão pareceu sumir sob seus pés. Henrique não conseguia acreditar. As imagens da noite anterior começaram a se recompor em sua mente, fragmentos de memória que ele tentava juntar em um quadro coerente. O vinho, as discussões, a briga na cozinha...
— Joana, eu... eu não lembro de nada. — Henrique gaguejou, sentindo-se desesperado. — Não pode ter sido eu...
Mas a voz dela apenas se quebrou em mais soluços.
Henrique sentou-se na fria cadeira de metal, sentindo o peso do mundo desabar sobre seus ombros. Seria possível que o vinho tivesse liberado algo dentro dele, uma fúria incontrolável que ele sequer sabia existir? Ou haveria algo mais sombrio em jogo, algo que ele ainda não compreendia?
À medida que a conexão telefônica foi cortada, Henrique sabia que teria que lutar contra suas próprias memórias e descobrir a verdade. O vinho de ontem à noite poderia ter sido a chave para liberar demônios que ele não sabia que carregava, ou talvez, alguém ali naquela noite tivesse intenções muito mais sinistras do que uma simples celebração.
E assim, no silêncio da cela, Henrique jurou a si mesmo que descobriria o que realmente aconteceu. Foi culpa do vinho de ontem à noite, pensou, mas até que ponto?
Henrique estava sentado no banco de concreto da cela, tentando juntar as peças de um quebra-cabeça que parecia impossível de resolver. Cada fragmento de memória trazia mais perguntas do que respostas. Ele precisava descobrir a verdade, mas, para isso, precisava de ajuda.
A primeira pessoa que veio à sua mente foi Rafael. Ele estava lá na noite anterior e, pelo que Henrique se lembrava, fora um dos que discutiram acaloradamente com Marcelo. Rafael sempre teve um temperamento explosivo, mas seria capaz de matar? Henrique duvidava. No entanto, precisava falar com ele.
O advogado de defesa, um homem robusto com óculos de armação fina e expressão severa, entrou na cela.
— Sr. Henrique Costa? Sou seu advogado de defesa, André Almeida. Precisamos conversar sobre o que aconteceu na noite passada. Você lembra de alguma coisa que possa nos ajudar a esclarecer os fatos?
Henrique assentiu lentamente, ainda processando tudo.
— Eu lembro de fragmentos... o vinho, a discussão entre Marcelo e Rafael, e depois tudo fica escuro. Não consigo lembrar de mais nada.
André suspirou, tirando uma pequena agenda do bolso.
— Vamos tentar encontrar Rafael e ver o que ele tem a dizer. Também vou precisar de uma lista de todos os que estavam lá naquela noite. Precisamos reconstruir os eventos com o máximo de detalhes possível.
Horas mais tarde, no escritório do advogado, Rafael entrou com uma expressão de confusão e cansaço. As olheiras profundas indicavam uma noite sem dormir. Ele olhou para Henrique com uma mistura de preocupação e alívio.
— Cara, o que está acontecendo? Eu mal posso acreditar que você está sendo acusado de matar o Marcelo. Isso é insano!
Henrique respirou fundo, buscando forças para a pergunta que precisava fazer.
— Rafael, o que você lembra da noite passada? Eu sei que você e Marcelo estavam discutindo, mas depois disso, tudo é um borrão para mim.
Rafael fechou os olhos, como se estivesse tentando puxar as memórias de um lugar profundo.
— Sim, estávamos discutindo. Não me lembro sobre o que exatamente, mas foi algo estúpido, como sempre. Depois que você desmaiou, eu fui atrás do Marcelo para pedir desculpas, mas ele não estava mais na cozinha. Joana também estava estranha... saí rapidamente porque senti que algo estava muito errado. — Ele parou, olhando diretamente para Henrique. — Eu juro que não sei mais nada além disso.
André interveio.
— Precisamos encontrar Joana e descobrir o que ela viu ou sabe. A história dela pode ser crucial para a defesa.
Joana estava em um estado ainda mais frágil quando finalmente a encontraram. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, e ela parecia à beira de um colapso nervoso.
— Henrique, eu não sei o que aconteceu. Só lembro de vocês brigando, e eu saí de lá porque não conseguia suportar a tensão. Quando voltei, Marcelo estava no chão, e você estava desmaiado ao lado dele. Eu... eu estava apavorada.
A confusão na mente de Henrique só aumentava. Se Joana e Rafael não eram culpados, quem poderia ser? E por que tudo parecia apontar para ele?
O advogado, atento a cada detalhe, fez uma pergunta crucial.
— Joana, você se lembra de alguém mais na casa? Alguém que poderia ter entrado sem que vocês percebessem?
Ela balançou a cabeça negativamente.
— Não... pelo menos, eu não vi ninguém mais. Mas... agora que você mencionou, o Marcelo estava recebendo mensagens no celular a noite toda. Ele parecia preocupado, mas não disse nada a ninguém.
Henrique sentiu um calafrio. Seria possível que Marcelo tivesse inimigos? Alguém que quisesse se vingar dele?
A investigação tomou um rumo diferente. O advogado conseguiu acesso ao celular de Marcelo, e as mensagens revelaram um nome desconhecido, alguém com quem Marcelo parecia estar tendo uma discussão acirrada nos dias anteriores.
Henrique sentiu a esperança renascer. Talvez ele não fosse o culpado, mas alguém usara a situação para incriminá-lo. Agora, tudo dependia de descobrir quem estava por trás dessas mensagens e por que Marcelo estava tão preocupado.
A verdade estava lá fora, esperando para ser desenterrada. E Henrique, com a ajuda de André, Joana e Rafael, estava determinado a encontrá-la e limpar seu nome. Cada peça do quebra-cabeça estava lentamente se encaixando, e logo ele teria a resposta que tanto buscava.
Mas o caminho para a verdade seria árduo e cheio de surpresas. E Henrique precisava estar preparado para enfrentar qualquer coisa que viesse à tona, mesmo que a verdade fosse mais dolorosa do que ele poderia imaginar.
A poesia sobre o escritor...
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Foi culpa do vinho de ontem à noite!
Nas sombras do cárcere frio e austero,
Henrique desperta, seu destino é fero.
Memórias turvas, fragmentos perdidos,
A noite passada, ecos distorcidos.
O vinho fluía, doce e traiçoeiro,
Brindes e risos no ambiente ligeiro.
Marcelo exaltado, palavras em brasa,
Rafael e Joana, tensão que arrasa.
Discórdia e briga, tudo se transforma,
A luz se apaga, a lembrança deforma.
Henrique no chão, desmaiado, sozinho,
Culpa do vinho, traçado o caminho.
Mensagens sombrias, segredos guardados,
Carvalho e ameaças, passos errados.
Amigos em busca de uma verdade,
Inocência provada, justiça e vontade.
Marcelo caído, vítima do acaso,
Conspiração revelada, o fim do ocaso.
Henrique liberto, cicatrizes na alma,
O vinho marcou, mas trouxe a calma.
Lições profundas, da noite e do escuro,
Redenção e aprendizado, um futuro seguro.
Foi culpa do vinho de ontem à noite,
Mas também do destino que se desdobra e açoite.
#foiculpadovinhodeontemanoite
#poethaabiliomachado
#18h17260724
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