O Peso do Vazio
Há dias em que o mundo inteiro parece se encolher sob o peso de um único pensamento: “Levantar da cama”. Algo tão simples, tão rotineiro. Acordar, esticar o corpo, colocar os pés no chão frio e iniciar o ciclo de mais um dia. Mas há momentos, mais frequentes do que gostaria de admitir, em que até isso parece uma tarefa monumental. Aos 59 anos, com algumas comodidades à minha volta – um teto sobre a cabeça, uma cama confortável, comida no armário – deveria ser mais fácil, não é? Pelo menos, é o que dizem.
Mas a verdade, que poucos entendem, é que o vazio pesa. Um vazio que se infiltra pelos cantos da mente, como se sugasse a energia de qualquer tentativa de ação. Levantar da cama se transforma numa batalha silenciosa, onde o inimigo não tem rosto, mas está lá, constante, implacável. “Isso é depressão”, dizem os médicos, os amigos, os artigos que li tentando entender o que se passa dentro de mim. E talvez seja mesmo. Mas entender o nome do inimigo não o torna menos poderoso.
Eu me lembro dos tempos em que tudo parecia mais simples. Acordar, tomar café, trabalhar, voltar para casa. Havia cansaço, claro, mas era um cansaço que vinha com o esforço, com a produtividade. Agora, é um cansaço que surge antes de qualquer movimento. Não é só físico – é um cansaço da alma, um esgotamento que parece vir do próprio ato de existir.
As comodidades que tenho, e que sempre imaginei que trariam algum tipo de alívio, hoje parecem quase irrelevantes. Não que eu as desvalorize. Sei que tenho sorte em certos aspectos. Há muitos que têm menos. Mas isso não impede a sensação de que, por mais que eu tenha, algo fundamental está faltando. Talvez seja a paz. Talvez seja o sentido.
E as dificuldades financeiras... Ah, elas são outro peso. Sempre ali, pairando sobre mim como uma nuvem carregada. A cada mês, um novo cálculo, uma nova ginástica mental para fazer o dinheiro durar. Pagamentos, contas, despesas que nunca acabam. Quando era mais jovem, essas preocupações pareciam desafios superáveis, parte da vida adulta. Agora, parecem muralhas intransponíveis.
Se eu tivesse mais energia, talvez pudesse encarar isso de frente, encontrar uma solução. Mas como encontrar uma solução quando levantar da cama já é uma vitória? Como planejar o futuro quando o presente parece tão estagnado, tão envolto nesse nevoeiro de tristeza e apatia?
Hoje, o relógio marca 8h. Já deveria estar de pé há horas. Deveria ter feito o café, organizado as coisas da casa, dado conta dos pequenos afazeres que não esperam. Mas ainda estou aqui, deitado, olhando para o teto, tentando reunir a força para um simples movimento. “Só mais cinco minutos”, penso. Só mais um momento nesse espaço que, embora desconfortável, parece mais fácil do que enfrentar o que está lá fora.
Eu sei que não posso continuar assim. Sei que cada dia que perco para essa sensação de vazio é um dia que não volta. Mas saber não torna mais fácil agir. Saber não elimina o fardo. Isso é depressão, sim, mas é também uma sensação que vai além de qualquer diagnóstico. É o peso de uma vida que, aos poucos, parece ter perdido o brilho, a cor, o ritmo.
Talvez, daqui a pouco, eu me levante. Talvez tome um café, resolva uma ou duas pequenas pendências. Ou talvez não. Talvez o esforço de hoje seja simplesmente existir, passar por mais um dia, sem esperar muito além disso. O que aprendi, com o tempo, é que, às vezes, isso já é suficiente.
E amanhã... amanhã veremos.
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