Minha experiência com manicômio é de muita dor, ainda me é presente todos os momentos, angústias e esperanças em relação à minha mãe, até hoje me esforço mas me sinto afastado de minhas irmãs mais velhas devido a isso, por aceitarem tão docilmente a prescrição psiquiatrica e tê-la colocado aprisionada. Saber-me a que foi submetida, me apavora. E lágrimas caem, estou cardíaco, internado e isso já me limita no domínio do espaço e do meu corpo, imagino como foi, como pode ter sido, como foi tratada. Que sempre que iria retornar chorava como bebê, baixinho, comedida, com medo. Sempre imagino como foram suas estadas, uma mulher sofrida pela vida, com grande parte de seu corpo paralisado por um "derrame" à época, hoje talvez se credenciasse como avc. Ela contava algumas coisas que faziam, do que via e presenciava, dos eletrodos na cabeça, mas devido ao desconhecimento e idade achava que era porque não queria retornar e depois ao estudar, meu Deus tende piedade de todos nós, filhos. Dói, uma sensação de o que poderia ter feito, brigado mais, me revoltado mais. Teve no último internamento vários episódios de se sufocar, engasgo, mas veio falecer no manicômio, no laudo fibrilação ventricular ! Claro que monta vários ses e será devido à oralidade que se passava à época, e eu menor não tinha o conhecimento e a coragem de hoje. Me manifestei na época com o porque a internaram... Meu último dia com ela foi de extrema alegria, com risos, passeio, gargalhadas, antes de ser internada à minha revelia. Talvez seja, inconscientemente, o motivo verdadeiro por me ter feito psicólogo. E assim, minha mãe se foi, dentro de um manicômio em 27 de novembro de 1983, aos 53 anos.
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